2.10.12

aquele amigo...

hoje parei num semáforo e fiquei ali, com o sono matinal, a olhar distraidamente para os sonolentos madrugadores das sete da manhã como eu. não me lembro bem que música estava a dar, mas ela embalava sem querer uma certa nostalgia. e, mesmo tendo a cabeça vazia, a sensação era de sossego. 
e, foi então, que, num desses olhares desinteressados pelas janelas ainda meias húmidas, me pareceu ver um amigo que não vejo há anos. não sei já bem quantos. mas já dá para usar a expressão há anos
foi então que me pareceu vê-lo. a música não era o i can see clear now nem o what a wonderful world, mas de repente, era como se um anúncio me surgisse na cabeça e a voz off aparecesse instantaneamente a acompanhar os passos daquela pessoa tão parecida com aquele meu amigo que não vejo há anos!
há quanto tempo não vê aquele amigo? quantos dias passarão até que o reencontre? não perca mais tempo. não insista nas saudades... 
e pronto, fiquei por aqui... o anúncio não continuou. ficou verde. eu não achei o produto certo para tanto tempo...
o meu amigo ficou mais na cabeça do que o anúncio ou aquele minuto parada no semáforo com música nostálgica e uma pessoa tão parecida com o meu amigo.
o anúncio não continuou porque eu não encontrei uma forma de voltar a encontrar o meu amigo. porque de repente, se fosse mesmo o meu amigo, eu não saberia se o chamava ou se simplesmente apreciava o seu passo ligeiro, com certeza mais velho, e o deixava continuar a sua vida sem saber que a poderia, naquele instante, ter cruzado com a minha. 
este amigo, que não vejo há anos, foi indo com o tempo. não resistiu às separações e às diferentes escolhas da vida. este amigo que há anos me era inseparável, ficou assim, um simples sonolento madrugador que se cruza comigo no semáforo da manhã, sem que eu tenha vontade de abrir o vidro e acabar anúncios que nos voltariam a fazer encontrar.
e, embora a vida vá andando e consigamos sempre pôr as pessoas nos sítios certos, há umas quantas que fazem um caminho tão grande para fora de nós que chega a ser estranho imaginar que estiveram tão próximas e que lutámos imenso para que elas ficassem.

hoje, para este meu amigo, uma vontade imensa de o ver passar na rua, só para ver como está.

1 comentário:

JoanaM disse...

Ja pensei tantas vezes nisso... Porque a vontade é mesmo não deixar de ver ninguém, mas as 24 horas, os 7 dias, os 12 meses do ano não deixam, ou de repente a partilha facil do olhar deixa de acontecer. Mas é sempre bom saber que esses nossos amigos foram construindo a nossa história e que os vamos lembrando, nos semaforos ao som da música. Bjs