29.9.11

tempo parado


quando os quartos ficam vazios
o nosso coração pede uma paragem no tempo
para nos despedirmos do que acabou de ficar lá para trás.
só depois dessa paragem
é que conseguimos voltar a entrar nos quartos
e pensar na sua nova vida.

(hoje peço ao tempo que pare um bocadinho, embora saiba do difícil que isso é para ele)


25.9.11

la mujer salvaje

"(...) como una criatura salvaje que olfacta una cosa y la husmea por arriba, por abajo y por todas partes para averiguar lo que es, la mujer es libre de buscar las verdaderas respuestas a sus más profundas y oscuras preguntas. Y es libre de arrancarle los poderes a la cosa que la ha atacado y de transformar estos poderes que antes se habían utilizado contra ella en su proprio beneficio. Eso es la mujer salvaje."

Mujeres que corren con los lobos, Clarissa Pinkola Estés

24.9.11

ao senhor cândido

lembro-me de si, senhor cândido. na minha infância.
o dono do tractor que me levava aos campos e me dava a liberdade das tardes tão perto da terra. tão perto do que era realmente importante.
todo o cuidado que me era dado por entre as batatas e as enxadas e as vacas por ordenhar.
lembro-me de si, senhor cândido. na minha infância.
e ficará sempre aí, nesse canto da memória que guardo com carinho.

20.9.11

30 anos



há 30 anos
há precisamente 30 anos

15.9.11

roda viva

um amigo guarda duas horas do seu dia para nós.
um menino não volta a casa no fim do dia.
uma mulher abraça-nos com uma boa notícia.
outra mulher morre meses depois do marido ter morrido.
um amigo partilha-nos as suas dúvidas.
um irmão leva-nos a ir ao cinema sozinhos pela primeira vez.
uma amiga diz-nos que estamos mais bonitas do que nunca.
um espaço prepara-se para ser visitado pela última vez.

uma visita diz-nos que a nossa casa é maravilhosa.
uma barata gigante entra-nos pela janela da varanda.

tem-me percorrido esta ideia da vida ser mesmo imensa
de não sabermos mesmo de que maneira os dias nos vão acontecer
e de ser tão precioso encontrarmos um espaço nosso onde colocar toda esta roda viva.

12.9.11

há dias XXIII


há dias em que um grande amigo partilha a paz encontrada
e nos devolve um pouco da nossa paz.

(obrigada T.)

7.9.11

espaço (d)e tempo


passaram três eléctricos mas os meus passos recusaram-se a parar e a desaproveitar a noite clara que nasceu entretanto. a cidade desfilava e eu desfilava com ela, como se ambas nos tivéssemos feito bonitas para a passeata. a esplanada vista do outro lado. as luzes a acender no príncipe real. beirut no chiado. o miradouro das portas do sol com a lua por cima. as luzes da margem sul brilhantes no tejo. o mosteiro de são vicente de fora imponente por entre a malha de telhados. a brisa. sempre a brisa. e o calor da caminhada e da noite. por entre os pensamentos a amiga acabada de deixar e a imensidão que é a vida e como temos mesmo de ter uns braços muito abertos para a receber.

3.9.11

mesquinhez

estava ali na sua frente e acabara de lhe fazer uma confissão.
na sua cabeça e no seu peito nascia um sentimento mesquinho que não queria que a invadisse. aquele que lhe tinham ensinado que era feio e que só com o tempo foi percebendo porque era feio.
empurrou-o para o lado e puxou do mais fundo de si toda a possibilidade de continuar uma conversa agradável como até então. e ali ficaram por mais algum tempo, com a confissão já em segundo plano e a mesquinhez posta de lado.
mas mal os corpos se afastaram na despedida, toda a mesquinhez voltou e a confissão martelou a sua cabeça mais uma vez.
não havia como fugir.
a mesquinhez invadia-a.
fazia parte de si.
não podia evitar.

deixou-se invadir.

e a mesquinhez,
ao invadi-la,
evadiu-se.

2.9.11


e assim começa o setembro a parecer dezembro.