28.10.12

há dias XXIX

há dias em que o nosso coração bate 
de entusiasmo e nervoso ao mesmo tempo 
porque pusemos pés ao caminho,
num novo caminho,
desenhado já há muito no nosso mapa, 
mas ao qual nunca tínhamos tido a coragem de dizer que sim.
há dias em que sentimos que o nosso coração bate.


24.10.12

23.10.12


"Doing What You Like Is Freedom. 
Liking What You Do Is Happiness."

Frank Tyger

(em conversa de gtalk)

a buganvília

I
foi o primeiro verão em que me preocupei com as plantas cá de casa. foi o primeiro verão em que experimentei deixar montado um sistema de rega que não deixasse secar as plantas e as mantivesse sempre em contacto com água. foi o primeiro verão em que voltei a lisboa de propósito, a meio das férias, para regar as plantas e ver se estava tudo bem. foi o primeiro verão em que fiquei preocupada com elas. e foi o primeiro verão em que morreu tudo na varanda. em setembro, tudo seco. um sentimento frustrado de não ter conseguido. quase uma dedicação desnecessária. mas, bom, a deixar entrar algumas ideias já para o próximo verão. para não deixar esmorecer a vontade de ter um bocadinho de terra e verde e ar puro no meio da cidade.
foi-se mantendo o estado da varanda. fui regando, às vezes, na esperança de trazer alguns vasos de volta à vida. mas os sinais não davam conta de que alguma coisa iria acontecer. 

II
normalmente resmungamos com a chuva e damos-lhe um lugar algo desconfortável. as primeiras chuvas trazem o cheiro da terra, mas ao fim de quatro ou cinco chuvas, temos as primeiras constipações e os primeiros dissabores da roupa molhada pelos carros e então desenvolvemos o mau humor. luto contra isto há algum tempo, tentando ver sempre o lado bom das chuvas e destes dias outonais e invernosos que nos tiram da festa dos dias de sol. mas às vezes é difícil, sim. a quantidade de nuvens e o tecto que se desenvolve no céu tem por vezes um efeito sufocante com o qual é difícil lidar.

III
mas ontem, ontem, a chuva trouxe-me a certeza de que lhe devemos um respeito muito grande e de que, de facto, ela tem mesmo de vir e ficar o tempo suficiente para conseguir a sua missão. 
ontem, ao fim de umas quantas chuvas, reparei melhor no vaso da buganvília. lá, de dentro do tronco inicial, começaram a nascer folhas novinhas, bem verdinhas e rijinhas. fortes. com força para voltar a dar vida àquela maravilhosa planta.
confirmaram-me as minhas amigas com partilho as minhas dificuldades jardineiras. 

IV
I. "é a força da natureza!"
T. "ela é forte! começa devagarinho mas depois vai ser um espectáculo!" 

"grande lição de vida" respondi eu

(a alegria deste post é inteiramente dedicada à T. e à I. que partilham comigo esta minha vontade de saber cuidar da minha varanda e da natureza que tento manter à minha volta. um obrigada muito grande a elas.)

20.10.12

afazeres

"Não há muitos portugueses com a percepção de Manuel António Pina de que o futuro existe e que não pode estar condenado a esta inevitabilidade", acrescentou. "Era um daqueles seres humanos com capacidades únicas para nos fazer assentar os pés na terra e levar-nos a pensar o futuro pela razão e pelos valores."

(A Ana Quer)

e mais palavras guardadas aqui e aqui para ler de vez em quando

17.10.12

para usar dentro e fora da piscina


"lembra-se do que lhe disse na última aula? com calma. a usufruir do movimento. deixar deslizar o corpo e aproveitar este tempo. quero ver isso."

a terra vista da lua

A Terra vista da Lua, uma das imagens famosas das missões Apolo

16.10.12

hein?


“Estamos profundamente sensibilizados e honrados pelo facto de a União Europeia ter recebido o Nobel da Paz. A reconciliação é a essência da UE. É um projecto único que substituiu a guerra pela paz, o ódio pela solidariedade", disse o presidente do Parlamento europeu, o alemão Martin Schulz, que foi o primeiro a reagir à distinção.

14.10.12

porcaria

tira 
tira
tira a porcaria
tira
tira a porcaria toda
tira-a toda duma vez
tira-a toda toda toda

para não te arreliares mais

vai lá bem ao fundo
vê lá bem o que lá está
e tira-a toda toda toda
limpa tudo duma vez

mas vê lá comé que fazes
que não queremos
como em antes
tudo assim escarafunchado

aliás
inda melhor
não guardes é porcaria
nem a deixes mais entrar
que se entrar
é para sair
e já não te incomodar

deixa-a logo no lugar
não a guardes para ti
que se guardas 
é pra quê?

pra te arreliar o espaço?
pra te arreliar o tempo?
para não a dar aos outros?
e se foram eles a dar-te?

limpa toda a porcaria 

limpa agora a que já tens
e promete "nunca mais"
ficar com ela para ti
e dar voltas por demais
até a alcançar 
e podê-la puxar


deixa a tua casa em paz
qu'ela está já bem bonita
já não vai andar pa trás
por causa duma porcariazita



10.10.12

morcelas

fui no domingo ao mercado da covilhã, no mercado da ribeira. a serra na capital. os sabores da serra aqui pertinho. um deslumbre. provei os enchidos em quase todas as bancas e eis que numa delas estão as morcelas de arroz que queria encontrar. uma maravilha de sabor e textura. a delícia dos salgados. pedi duas e pensei em dois amigos para me virem ajudar a comê-las. morcelinhas de arroz com grelos. hmmm. o sabor! combinadas as coisas fica a maravilha para comer hoje ao jantar com os dois amigos, depois de uma aula de natação. perfeito! meio da semana. companhia boa. rico jantar. os grelos comprados fresquinhos ao fim da tarde e um dente de alho, não fosse faltar o alho em casa. tudo perfeito. 
bom, tudo perfeito até chegar a casa e dar de caras com as morcelas meias esverdeadas e com um sabor já diferente... eu nem sei explicar a raiva e o amuo que nasceram dentro de mim. tratei de cancelar o jantar, porque afinal o que importava eram as morcelas, agora verdes. num ápice, cancelei tudo e desatei a aquecer no microondas o resto da comida de ontem. comi amuada. fiz o telefonema que tinha para fazer amuada. vi os mails amuada. escrevi um amuada. e, nem acredito bem, mas ainda me sinto amuada e irritada. 
é que eram mesmo tão boas as morcelinhas... garantidamente boas... e é tão raro...

5.10.12

courgettes

soraia mexia-se a um ritmo alucinante dentro do seu pequeno espaço de caixa. era chamada pelas colegas das outras caixas e respondia apressada, mas solicitamente. não se esquecia dos pequenos pormenores que o cliente anotava. faltava-lhe material e fazia-o chegar à velocidade da luz. soraia é uma senhora da caixa eficiente. que não sua, que não resmunga e que consegue dar atenção a vários estímulos ao mesmo tempo, sem perder qualidade. 
naquele instante, depois de ter descoberto a falta de sacos e ter corrido todas as outras caixas, recebendo pelo caminho vários apelos das caixas vizinhas e ter soltado um têm de tratar das vossas caixas e não tirar da minha, soraia começou então a passar as compras expectantes atrás da barrinha cliente seguinte. vamos lá então. iogurtes. pip. manteiga. pip. requeijão. pip. courgettes... courgettes. verificar balança. courgettes. verificar balança. tens sacos soraia? verifica a balança. cancelar. courgettes. verificar balança. reverifica. cancelar. paula preciso da marta rapidamente aqui. courgettes. verificar balança. desencaixa a balança. cancelar. a marta! sacos para a caixa 2. esse telefone não funciona. courgettes. verificar balança. espreita por baixo do balcão. desencaixa a balança. a marta não vem. verificar balança. cancelar. courgettes. verificar balança. cancelar. courgettes. verificar balança. cancelar. courgettes. verificar balança. cancelar...
soraia respira fundo. ajeita o rabo de cavalo e no meio do frenesim, pára um pouco e murmura afirmativamente eu não mereço isto. e de facto não merecia. numa tentativa mais...  courgettes. pip. eu sabia que não merecia.

3.10.12

piscina

hoje voltei à piscina a sério. com um professor daqueles que nos faz competir connosco próprios, que nos faz fazer mais piscinas do que aquelas que nos sentíamos capazes e que nos faz treinar os estilos com o nosso maior estilo. hoje ele disse "nada muito bem. bem vinda à piscina." e eu tive a mesma sensação que tinha aos doze anos quando me diziam que eu nadava bem e que estava pronta para as competições. uma competição comigo própria. por me saber capaz. por ter conseguido chegar lá. e hoje... hoje voltei a esse sítio lá longe, cheio de cloro e vapor e valor. 
um muito obrigado ao professor de natação e a todos aqueles de quem já não me lembro, mas que plantaram aqui esta capacidade de querer competir comigo própria, para conseguir sempre chegar lá - até mesmo aquele de quem eu não gostava nada.

2.10.12

aquele amigo...

hoje parei num semáforo e fiquei ali, com o sono matinal, a olhar distraidamente para os sonolentos madrugadores das sete da manhã como eu. não me lembro bem que música estava a dar, mas ela embalava sem querer uma certa nostalgia. e, mesmo tendo a cabeça vazia, a sensação era de sossego. 
e, foi então, que, num desses olhares desinteressados pelas janelas ainda meias húmidas, me pareceu ver um amigo que não vejo há anos. não sei já bem quantos. mas já dá para usar a expressão há anos
foi então que me pareceu vê-lo. a música não era o i can see clear now nem o what a wonderful world, mas de repente, era como se um anúncio me surgisse na cabeça e a voz off aparecesse instantaneamente a acompanhar os passos daquela pessoa tão parecida com aquele meu amigo que não vejo há anos!
há quanto tempo não vê aquele amigo? quantos dias passarão até que o reencontre? não perca mais tempo. não insista nas saudades... 
e pronto, fiquei por aqui... o anúncio não continuou. ficou verde. eu não achei o produto certo para tanto tempo...
o meu amigo ficou mais na cabeça do que o anúncio ou aquele minuto parada no semáforo com música nostálgica e uma pessoa tão parecida com o meu amigo.
o anúncio não continuou porque eu não encontrei uma forma de voltar a encontrar o meu amigo. porque de repente, se fosse mesmo o meu amigo, eu não saberia se o chamava ou se simplesmente apreciava o seu passo ligeiro, com certeza mais velho, e o deixava continuar a sua vida sem saber que a poderia, naquele instante, ter cruzado com a minha. 
este amigo, que não vejo há anos, foi indo com o tempo. não resistiu às separações e às diferentes escolhas da vida. este amigo que há anos me era inseparável, ficou assim, um simples sonolento madrugador que se cruza comigo no semáforo da manhã, sem que eu tenha vontade de abrir o vidro e acabar anúncios que nos voltariam a fazer encontrar.
e, embora a vida vá andando e consigamos sempre pôr as pessoas nos sítios certos, há umas quantas que fazem um caminho tão grande para fora de nós que chega a ser estranho imaginar que estiveram tão próximas e que lutámos imenso para que elas ficassem.

hoje, para este meu amigo, uma vontade imensa de o ver passar na rua, só para ver como está.

1.10.12

falava falava falava

e ela falava falava falava... com tantas tantas palavras que a sua cabeça era demasiado pequena para tudo aquilo que ela dizia. credo! não era possível. já nem tinha o telefone nos ouvidos, mas dali do sítio onde o tinha pousado, continuava a ouvir-se a sua voz ininterruptamente. teve tempo de fazer um jantar inteiro. e nem a falta de respostas lhe deu indícios de que não estava a ser ouvida. então declarou "olha, agora tenho de me concentrar aqui no jantar..." e ela ainda disse mais uns cinco minutos de coisas. "vá, um beijinho. falamos depois." e desligaram. e a sensação era a de que não precisava de ser ouvida. precisava só mesmo de pôr tudo cá para fora antes de ir dormir para não ter a cabeça tão cheia em cima da almofada e conseguir o sossego nocturno.