28.2.13

ser feliz


"Se perguntarmos à maioria o que quer da vida, a resposta é simples: ser feliz.
Mas talvez seja a expectativa, o querer ser feliz, que nos impede de lá chegar.
Se calhar, quanto mais tentamos atingir estados de alegria, mais confusos ficamos. Ao ponto de não nos reconhecermos. Em vez disso, continuamos a sorrir. E esforçamo-nos imenso por sermos as pessoas felizes que queremos ser. Até que nos ocorre finalmente. Sempre esteve lá. Não nos nossos sonhos ou esperanças, mas no que conhecemos, no que para nós é confortável, familiar."

da anatomia de grey

27.2.13

para a vida

- ui! que canseira, credo. isto às vezes, mais valia era estar quietinha, porque quando se começa é que se vai andando e nunca mais se acaba, porque se descobre que afinal há ali mais qualquer coisinha para ser limpa e arrumada e para ir para o lixo. nunca mais acaba. ui! para o ano já não faço isto. 
mas também... digo sempre isto e faço outra vez... oh... é tão bom  depois ver isto tudo novinho como se fosse começar tudo outra vez... não é?

(escrito no caderno, no início do ano, depois de uma conversa com a T., a propósito da cave da escola)

22.2.13

portugueses

e que na História fique escrito, sim, que somos criativos quando começa a ser demais e que lutamos com toda a nossa potencialidade.
o meu maior respeito por quem tem feito vingar ideias.

21.2.13


Poderia o nosso Universo acabar engolido por outro?



correr III

corres tanto
tantas vezes
corres tanto 
pra tão longe
corres tanto

corres tanto
e nem gostas de correr
e corres
e corres

e enquanto corres
bate-te o vento na cara
mas nem o sentes
porque a correr 
vai também o coração
e a sofreguidão
e a solidão
e não

tu não gostas de correr
mas não consegues parar
com medo de perder
com medo de te perder
de lá não chegar
de não conquistar
de não seres
de perderes
de te perderes

pára
pára agora
pára um pouco

respira

bebe a água límpida da fonte

aprecia

desfruta

sente o vento 
que te batia 
há pouco 
na cara

confia

e corre
corre 
corre agora
para aproveitar
para amar

confia

corre agora
mais devagar

19.2.13

grita

- e se te apetecer, grita - que os meus ouvidos estão preparados para te ouvir gritar. sabes que não vais pensar, sabes que não vais ter toda a razão, sabes que vais magoar se mais alguém te ouvir e sabes que nem tudo se vai perceber. mas grita. grita agora. não guardes esse grito mais tempo. para quando não o puderes ou souberes dar. grita agora - que os meus ouvidos estão preparados para te ouvir gritar e a estrada está vazia e há todo o tempo do mundo para o grito que aí está. grita.

17.2.13

o fugitivo


Um homem corre na noite 
é uma imagem banal 
podia ser em Madrid 
ou Johanesburgo, ou em S. Paulo 
ou Budapeste, Nova Iorque 
ou Hollywood 
ou é claro em Portugal 
um homem corre na noite 
é uma imagem banal 

Porque foge? De onde vem? 
porque olha para trás inquietado? 
será soldado? vagabundo? 
criminoso? ratoneiro? 
será apenas o primeiro 
dos que vão fugir com ele? 
foge p´ra salvar a pele 
só a sua? a pele dos outros? 
a pele clara ou a escura? 
quanto tempo vai durar a sua fuga? 
quanto dura? o que espera? 
o que espera o homem- fera 
se chegar a quem o espera? 
alguém o quer? alguém se acende 
alguém o chora? 
alguém por quem ele chorou 
chorará por ele agora? 
alguém que nunca o trairá 
e se sim, onde será? 

Um homem luta contra o sangue 
que derrama 
e diz: valeu a pena? 

Que os barcos 
voltem a subir o Guadiana 
vindos de longe 
do mar 

Que os barcos 
voltem a subir o Guadiana 
descarregando à passagem 
todo o trigo 
que o cavalo esbaforido 
chegue à relva, sua cama 
que o fugitivo 
encontre seu porto de abrigo 

Um homem corre na noite 
é uma imagem banal 
esgueirado de holofotes 
com a estrada que atravessa 
se confunde 
com o breu o seu corpo 
se confunde 
e se passa num muro branco 
fica branco como a cal 
tal e qual 
o camaleão 
é uma imagem banal 

Um homem luta contra o sangue 
que derrama 
em que cama 
terá ele o seu repouso? 
está ansioso? e como não? 
não estaria quem pisasse 
um desconhecido chão? 
não estaria de garganta afogueada 
quem por nada 
assim fugisse? 
quem por tudo suplicasse 
dai-me forças, dá-te forças 
a ti próprio te confias 
dá-te alento, dá-te tempo 
dá-te dias 
sobrevive de agonias 
respirando sobrevives 
sobrevive 

Um homem vive 
contra o sangue 
que derrama 
e diz: vale a pena? 

Que os barcos 
voltem a subir o Guadiana ... 

Um homem corre na noite 
é uma imagem banal 
porque insiste? porque teima? 
não há pânico na rua 
não há fogo no quintal 
labaredas? só nas camas 
dos amantes 
já distantes 
chegam ruídos, utopias 
quanto vale uma utopia? 
vale tudo? quanto vale? 
um homem corre na noite 
é uma imagem banal 

O que fez o fugitivo? porque corre? 
se está vivo é porque morre 
se morrer é porque o matam 
se o matarem ,será justo? 
inocentes são os culpados de outros crimes 
de que culpa? 
de paixão? de inconsciência? 
será justo ou não será 
desbaratar a inocência 
tão a custo conquistada? 
porque corre o fugitivo nessa estrada? 

E agora para para agora 
o homem para 
para agora para agora 
será que sente que chegou a sua hora? 

É impossível 
não é possível 
correr tanto 
e pensar tão 
lucidamente 
o coração 
não aguenta 
a cabeça também não 
porque tenta 
ultrapassar os seus limites? 
provavelmente 
é por vontade de viver 
(quente quente ...) 
que ultrapassa os seus limites 
«Estamos quites!» 
diz para o seu coração 
«Ainda não, ainda não ... 
sentes que valeu a pena? 
se te obrigam a fugir 
mais te obrigam 
a chegar junto de ti 
valeu a pena?»

sérgio godinho


para ouvir aos ouvidos e deixar o arrepio crescer pela quantidade vezes que já tivemos de fugir e chegar mais junto a nós

16.2.13

fim do dia

em reunião de trabalho discute-se um novo recomeço para a escola. 
em casa da amiga fala-se do passado para construir o futuro.

e, quando se chega a casa, descobre-se ainda que 

e que
um grupo de pessoas levantou a voz na assembleia.


este é um grande fim de dia


14.2.13

histórias incríveis



esta

comove-me a história do seu corpo e de como ele é abusado.
comove-me que haja uma mulher que, mesmo depois da morte, arraste um mundo para lhe devolver a dignidade.