28.4.12

senta-te aí


Está na hora de ouvires o teu pai
Puxa para ti essa cadeira
Cada qual é que escolhe aonde vai
Hora-a-hora durante a vida inteira

Podes ter uma luta que é só tua
Ou então ir e vir com as marés
Se perderes a direcção da Lua
Olha a sombra que tens colada aos pés

Estou cansado, aceita o testemunho
Não tenho o teu caminho pra escrever
Tens que ser tu, com o teu próprio punho
Era isto que eu te queria dizer

Sou uma metade do que era
Com mais outro tanto de cidade
Vou-me embora que o coração não espera
À procura da mais velha metade


*


Rio Grande


25.4.12


"Quero poder olhar para trás e dizer: terei feito algumas asneiras, mas no conjunto posso partir, lá para onde for, com tranquilidade"

 miguel portas

24.4.12

e correu para nunca mais voltar

desfazia o muro com toda a sua raiva, com todo o seu ódio. numa explosão interior, esperneando, gritando, enlouquecendo na ânsia de conquistar a sua liberdade e a destruição total do muro sem que nada restasse que estivesse emuralhado. dentro de si nascia uma força sobrenatural muito maior do que o corpo que tinha. uma raiva. um ódio. desse muro. só desse muro. construído nos tempos sem tempo. nos tempo sem sentido de que já nem se lembrava e que não eram mais o seu mundo. dentro de si nascia uma força vinda das entranhas que se soltava em murros e gritos e raiva e loucura. e os gritos e a raiva e a loucura e esta tremenda força trouxeram-lhe os amigos de sempre e para sempre. também enraivecidos e loucos e desejosos de ver o muro desaparecido definitivamente, devolvendo a liberdade talvez nunca sentida. o muro explodiu, rexplodiu e recontraexplodiu. desfez-se em pó. sumiu. desapareceu no universo. o barulho gigantesco das explosões deu lugar ao barulho gigantesco dos gritos. da felicidade. dos abraços. da crença de que agora podia correr. e correu correu. e os amigos a gritar "vai! vai! o mundo é teu!" e correu, olhando para trás... e correu olhando para a frente. e correu sem medo para aquele lugar onde sempre queria ter estado. e correu para nunca mais voltar. correu para nunca-mais-voltar.

21.4.12

jantar

- anda. senta-te. tenho aqui uma sopinha e acabei de pôr a mesa e abrir o vinho tinto. não precisas de explicar nada, nem falar de nada se não te apetecer. é assim este jantar. para tu descansares. para estarmos por aqui. se te vierem as lágrimas aos olhos deixa-as vir. nem penses em pensar no que eu possa pensar. se te apetecer, chora sabes como sou a favor da chuva na altura certa para limpar tudo. mas se não te apetecer, não chores.  e se quiseres que fale de trivialidades, diz. sabes que sou boa nisso. e se quiseres que abra o coração para aliviar o teu, também o faço. vá, já chega. tu já sabes tudo. estás em casa. vou pôr uma musiquinha e podemos comer.
 
há pessoas em quem descansamos melhor do que em qualquer sofá. não porque digam coisas espectaculares. não porque tenham os conselhos adequados para cada tipo de situação. não porque tenham comprado a comida que gostamos mais. mas simplesmente porque sabemos que estão de braços abertos prontos a receber-nos de qualquer maneira. e é um privilégio ter pessoas assim à nossa volta.

17.4.12

atenção à escrita automática

hoje fiquei enternecida com uma mensagem que dizia:

"ainda tens o meu abraço?"

derreti-me.
poesia a meio do dia.

"claro que sim. tenho muitos. vai este agora por mensagem."

de resposta:

"hein?! ainda tens o meu casaco ou não?"

bom, afinal era prosa clarificativa. respondi que "sim" e voltei ao trabalho.

15.4.12

We all do what we can
So we can do just one more thing
We can all be free
Maybe not with words
Maybe not with a look
But with your mind


cat power, Maybe Not

13.4.12

Parto Sem Dor

e agora eu vou-me embora
e embora a dor
não queira ir já embora
agora eu vou-me embora
e parto sem dor

e parto dentro de momentos
apesar de haver momentos
em que dentro a dor
não parte sem dor

*

sérgio godinho

10.4.12

quadras para um amor simples


larga o peso, menina

não andes tão carregada
que te doem as costas
no fim da jornada

mais do que era preciso
mais do que era devido
larga o peso, tem juízo
e vai ter com o teu marido

ele é bom
tem coração
dá-lhe tu também
a mão