30.12.11

100

naquele momento pequeno em que deixo a casa para ir de viagem rumo a 2012, não posso deixar de festejar com os tempos (s)em tempo o seu centenário de posts.

um brinde entre mim e todas as linhas escritas!
por mim, por quem cá esteve, por quem viveu nelas.

à saúde!

tchim tchim

um imenso obrigada a 2011

Sinto em mim

Vento sinto em mim
sus­sur­rar
o sopro do mar.

Frio sinto em mim
aque­cer
meu entardecer.

Medo sinto em mim
de sen­tir
pala­vras mentir.

Ânsia sinto em mim
de viver
o mundo a correr.

Vida sinto em mim
acor­dar
na rua dançar.

Dança sinto em mim
seu vibrar
gui­tarra cantar.

Fogo sinto em mim
aque­cer
teu corpo aquecer.

Sede sinto em mim
de beber
teu san­gue a arder.

San­gue sinto em mim
a fer­ver
nas veias correr.

Força sinto em mim
a ras­gar
meu peito gritar.

Alma sinto em mim
p’ra can­tar
um grito no ar.

Fúria sinto em mim.
Fle­chas sinto em mim.
Mágoa sinto em mim.

Risos sinto em mim.
Força sinto em mim.
Horas sinto em mim.

(...)

Mler Ife Dada


29.12.11

belharacos

o natal deste ano foram os belharacos feitos com a mãe na cozinha da tia C. aquele momento em que levei o primeiro à boca e ele me trouxe ao paladar o sabor exacto dos belharacos da avó. o orgulho de ser eu a trazer a este natal aquele sabor que só a avó nos trazia. o sentimento de a saber também orgulhosa.
obrigada, mãe.

(nota: apesar de se escrever bilharacos na wikipedia, lá em casa sempre dissemos belharacos e por isso não consigo deixar de os escrever assim)

17.12.11

cesária évora

ou porque não temos dinheiro,
ou porque estamos cheios de trabalho,
ou porque isto,
ou porque aquilo,
perdemos algumas oportunidades
que um dia deixam de existir.

(uma pena imensa de nunca ter dado prioridade a esta senhora)

13.12.11

há dias XXV


há dias em que sentimos um orgulho imenso

das pessoas que seguem ao nosso lado pela vida fora.

12.12.11


e então desejei fortemente ser aquela sensação

10.12.11

a paciência tem limites

o velho passeava o seu pequeno cão irritante. ela descia a rua da sua sessão semanal de compras. o velho andava calmamente observando a rua. ela trazia os sacos mais o guarda chuva, num ritmo compassado.
ao aproximar-se do cão e do velho, desviando-se, sorrindo, para não pisar o pequeno ser ridículo de quatro patas, vieram parar-lhe aos ouvidos os sons lascivos de um beijo largado para o ar e das palavras "também gostas, não gostas?" dirigidas ao cão. num acto reflexo, os sacos de compras voaram em direcção ao velho, que após cair, sentiu o seu olho direito perfurado com a ponta do guarda chuva.
depois de limpar a sua arma branca e cuspir de glória sobre o pequeno ser ridículo de duas patas, retomou o seu ritmo compassado de sacos de compras.

8.12.11

emaranhados

entrar correndo no emaranhado da vida
entrar correndo porque não o conseguimos de outra forma
entrar correndo por esses caminhos fora para além das cancelas

emaranharmo-nos nos dias
e em todos os espaços que percorremos
emaranharmo-nos uns nos outros
no que sentimos
no que sabemos
no que pensamos que sabemos
emaranharmo-nos em discussões
na falta de discussões
nos silêncios atordoantes
emaranharmo-nos até ao tutano
até descobrirmos qualquer coisa
até sabermos que fizemos tudo o que tínhamos para fazer
até...
até...
nos desemaranharmos
e seguirmos fluindo por aí fora.

2.12.11

early morning

by ns

(um amigo com quem partilho estes momentos efémeros)

A.

antigamente pensava que no trabalho era fácil fazer amigos. que o trabalho serviria também para isso. para criar relações tão cúmplices e confiadas como as de amizade. que era possível a confiança total. depois fui descobrindo que as pessoas com quem trabalhamos têm um lugar específico na nossa vida e que nem todas queremos que façam parte dela. que algumas são mesmo para ficar naquele espaço. que nem todas trazem o coração aberto para as partilhas que nos saem pela boca fora em conversas informais. depois fui perdendo a ligeireza destas partilhas e tornei-me criteriosa. agora... agora surpreendo-me quando uma passa o espaço do trabalho e me vem parar à vida fora dele. ainda que não seja o espaço da amizade plena.

a A. tem idade para ser minha mãe. tem uma filha exactamente da minha idade. com muitos gostos parecidos com os meus. também a A. tem alguns gostos parecidos com os meus. daqueles que não têm idade.
- todos os anos penso em ir ao gospel, mas nunca tenho companhia - dizia um destes dias.
- este ano pode ir ver-me A., eu guardo um convite para si e um lugar bem perto do coro.
ficámos ambas contentes. ela por ir ao gospel. eu por tê-la a ver-me.
(...)
hoje, no regresso a casa, descobri o anúncio do coro que anualmente a A. quer ir ver e, de repente, acabou-se o espaço da escola.
- A., ligo-lhe para lhe dizer que estou a ver um anúncio e que, se ainda quiser, vamos juntas ao coliseu.
quando desliguei o telefone tive a certeza de que tinha acabado de oferecer uma das melhores prendas de natal que a A. já teve e a comoção dela deixou-me a mim também comovida.

nem sempre fazemos amigos no trabalho, é certo, mas é maravilhoso quando conseguimos redescobrir e transformar as relações que criamos dentro dele.