2.12.11

A.

antigamente pensava que no trabalho era fácil fazer amigos. que o trabalho serviria também para isso. para criar relações tão cúmplices e confiadas como as de amizade. que era possível a confiança total. depois fui descobrindo que as pessoas com quem trabalhamos têm um lugar específico na nossa vida e que nem todas queremos que façam parte dela. que algumas são mesmo para ficar naquele espaço. que nem todas trazem o coração aberto para as partilhas que nos saem pela boca fora em conversas informais. depois fui perdendo a ligeireza destas partilhas e tornei-me criteriosa. agora... agora surpreendo-me quando uma passa o espaço do trabalho e me vem parar à vida fora dele. ainda que não seja o espaço da amizade plena.

a A. tem idade para ser minha mãe. tem uma filha exactamente da minha idade. com muitos gostos parecidos com os meus. também a A. tem alguns gostos parecidos com os meus. daqueles que não têm idade.
- todos os anos penso em ir ao gospel, mas nunca tenho companhia - dizia um destes dias.
- este ano pode ir ver-me A., eu guardo um convite para si e um lugar bem perto do coro.
ficámos ambas contentes. ela por ir ao gospel. eu por tê-la a ver-me.
(...)
hoje, no regresso a casa, descobri o anúncio do coro que anualmente a A. quer ir ver e, de repente, acabou-se o espaço da escola.
- A., ligo-lhe para lhe dizer que estou a ver um anúncio e que, se ainda quiser, vamos juntas ao coliseu.
quando desliguei o telefone tive a certeza de que tinha acabado de oferecer uma das melhores prendas de natal que a A. já teve e a comoção dela deixou-me a mim também comovida.

nem sempre fazemos amigos no trabalho, é certo, mas é maravilhoso quando conseguimos redescobrir e transformar as relações que criamos dentro dele.

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