25.7.12

prenda de anos caseira


Sísifo

Recomeça...
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar
E vendo,
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.

Miguel Torga, Diário XIII


(obrigada, R., por este pequeno espaço de partilha.)

20.7.12

34

entretanto fiz 34 anos.
34...

encho sempre as idades de um significado qualquer. sinto sempre uma necessidade de transformar os números ou a época em qualquer coisa simbólica para a minha vida. não sei bem porquê, mas faço isto há muitos anos.

o ano passado fiz 33. que número maravilhoso! que possibilidade espantosa de deixar para trás todos aqueles pedaços de mim que não valem mais a pena serem carregados. aqueles pedaços de vida que não vale mais a pena serem tão pesados. 33. a idade do cristo. a idade da morte do cristo. a idade de deixar morrer todas essas coisas que deixaram de fazer sentido e que não valem a pena o espaço que ocupam. 
que maravilha! desde os 25 que não tinha assim uma epifania tão forte sobre o simbolismo de uma idade. 
que caminho tão grande à minha frente e que entusiasmo e medo e nostalgia e força e pena e tudo... e que tudo que estava pela minha frente.
a par com o caminho, a minha decisão para os 33 anos foi tomando forma e ganhando todo o espaço dentro de mim. e a cada pequeno e grande passo a minha decisão fazia cada vez mais sentido. que bom sabermos por onde queremos ir, ainda que tudo seja atribulado.

de há umas semanas para cá, a proximidade dos 34, começou a travar este meu entusiasmo. é que " sinto sempre uma necessidade de transformar os números ou a época em qualquer coisa simbólica para a minha vida. não sei bem porquê." 
e 34... francamente... 34 depois deste arrebatamento dos 33... hmmm... que coisa mais enfadonha e... entediante... e... que número mais sensaborão... 
bem, sem deixar a vida andar para trás, uma nítida tristeza de deixar os 33.
e assim se arrastou esta ideia, entre piadas para os outros e para mim.
mas entretanto, na manhã em que iria fazer essa tal idade sem sabor, acordei com uma outra maravilhosa epifania! nem queria acreditar! ora pois! se os 33 foram para deixar morrer, os 34 são para renascer. para usufruir da possibilidade de não trazer mais aqueles monstros pesados comigo, de não me agarrar àqueles fiozinhos de passado que não acrescentam nada ao meu futuro e à vida inteira que tenho pela frente.
que sorte!
de maneira que, quando a minha mãe ligou à costumeira hora matinal a que eu nasci, tive mesmo a sensação de estar a nascer de novo. de estar a ter a possibilidade de criar tudo outra vez e reinventar novas vidas dentro desta tão grande e tão pequena que temos.

pois então, os 34

15.7.12

rir


“Rir? Pensamos alguma vez em rir? Quero dizer rir verdadeiramente, além da brincadeira, da troça, do ridículo. Rir, gozo imenso e delicioso, gozo completo...
Dizia à minha irmã, ou dizia-me ela a mim, anda, vamos brincar a rir? Estendíamo-nos lado a lado sobre uma cama e começávamos. A fingir, claro. Risos forçados. Risos ridículos. Risos tão ridículos que nos faziam rir. Então chegava o verdadeiro riso, o riso inteiro, que nos transportava no seu imenso rebentar. Risos sem gargalhadas, redobrados, desordenados, desenfreados, risos magníficos, sumptuosos e loucos... E ríamos até ao infinito do riso dos nossos risos... Oh rir! Rir de prazer, o prazer de rir; rir, é tão profundamente viver.”

Annie Leclerc