22.12.13

ano novo vida nova casa nova


e no meio do início dos arrumos para mudar de casa... no meio dos cadernos que vão agora viver para o lombomeão... saltam pequenos papéis que alguém, algum dia, me deu e eu guardei... e há alguns que falam directamente comigo, aqui e agora.

23.9.13


os seres humanos têm de vez em quando uma dificuldade tão grande em ser humanos...
impressionante, não é?

27.5.13

fazemos mesmo

a prova está aqui
de que somos mesmo bons 
quando pomos o que temos no que damos

fazemos o nosso melhor

"não conseguimos fazer tudo, não. mas fazemos o nosso melhor." - dizia há pouco a uma amiga, em jeito de fim de conversa, de fim de dia, de fim de ano lectivo cansado. dizia-o quase da boca para fora, para terminar de forma pacífica a nossa conversa e trazer o coração mais calmo para casa e deixar o dela também.

mas, sim, de facto, e enquanto caminhava, pensava-o, "fazemos mesmo o nosso melhor". lutamos para fazer andar os nossos projectos e sonhos e mais os projectos e sonhos dos outros. lutamos para, se no meio ainda der, tentar construir outros juntos. fazemos o que não queremos mas que tem de ser feito. fazemos andar a vida e "dar conta do recado" e, no meio de tudo, ter espaço para sermos felizes. 
dar de nós em cada coisa é fazermos o melhor. 
e há dias e meses e anos em que temos mesmo muitas coisas para fazer e que o pouco que damos faz, ainda assim, o movimento da vida. 
talvez não consigamos todos os dias chegar a todos os lados, mas, sim "fazemos o nosso melhor" e devemos dormir descansados.

11.5.13

sem abrigo


Um homem mora num jardim público durante dois anos. Tem apenas um cobertor vermelho e um copo de vinho alto. Tudo o resto são roupas, cartões e revistas que troca com frequência. Sente um imenso orgulho e gratidão por ter tido este lugar tão cobiçado por ele neste jardim da cidade e de não ter sido expulso à pedrada pela polícia, pelos outros homens ou um qualquer movimento de moradores. Mantém o seu sítio sempre arrumado e limpo. E durante o dia, quando todo o resto de moradores regressa ao jardim, ele sai pelas ruas da cidade. Procura histórias e comida. É isto que lhe basta para viver desde que escolheu o seu lugar no jardim e aprendeu a viver sobrevivendo. Adquiriu a qualidade de vida há tanto esperada. A garantia de escolher livremente o que quer que seja para a sua vida. Não tem obrigações, responsabilidades, pretensões. Basta-lhe esta casa.                                                                                                   
Mas um dia o jardim vai para obras.
Quando começaram os primeiros rumores sobre essa possibilidade, não fez parte dos movimentos que se opuseram e maldisseram as decisões tomadas. Não fez parte do Dia da Mocada em que homens e máquinas voltaram para trás sem conseguir iniciar a Muralha de Tapume que fecharia o jardim durante meses, para depois reabrir novinho em folha, todo arranjadinho. Tinha estado sempre lá, mas não, não tinha feito parte. Tinha assistido. Simplesmente. [E talvez agora percebesse que devia ter-se envolvido, mas na altura ele não sabia isso.] Aceita simplesmente e segue o seu caminho na noite em que fecham a Muralha definitivamente. Vai pela avenida fora preparado para escolher outros sítios provisórios e encara este tempo como uma grande viagem de férias em que os horizontes se abrem e uma quantidade imensa de histórias ficam à sua disponibilidade. Cria novos espaços durante o tempo em que espera pelo regresso ao jardim e pela primeira vez escreve postais para si próprio na ânsia de guardar este universo na sua casa. Quando finalmente regressa ao jardim, todo o espaço estava diferente. Todos os recantos que conhecia estavam descaracterizados e tipificados com os novos equipamentos de jardim que tornavam todos os espaços verdes iguais. 
Procurou o seu canto. O seu cheiro. Os restos de si naquele jardim e, pela primeira vez, se sentiu sem abrigo. 

8.5.13

obrigada



um amigo querido 
aliado a um espaço querido 
e a uma urgência completamente partilhada

obrigada, Castelo

7.5.13

magia

vai fiando o seu casulo. devagar. com paciência. gordo, grande e cheio de paciência. vai fiando. vai fiando. fica nisto o tempo que for preciso. e fia fia fia... a malha a ficar apertadinha. redondinha. e ele a ficar lá dentro. a desaparecer. sempre a fiar e a desaparecer. e a fiar até ao momento em que tudo pára. em que o casulo fica quieto. parado. sem sinais de vida. lá dentro há-de haver silêncio. sossego. solidão. mas transformação. 
o que se passa ali dentro? 
o movimento é invisível aos olhos. só aos olhos. porque em nós existe a expectactiva. a especulação de como tudo se move lá dentro. 
algum tempo depois é-nos brindada a borboleta. e tudo começa outra vez.
que magia a vida!

29.4.13

escola

tinha o microfone bem perto da sua boca. as pernas tremiam. o coração batia por todo o corpo. os olhos fixavam os olhos dos presentes que sorriam na ausência de palavras. sabia o que tinha de dizer. sabia que ao dizê-lo deixaria de estar dentro de si e passaria a estar dentro de todos aqueles que a escutassem e dos outros tantos a quem estes contassem. 

tinha desejo e medo ao mesmo tempo. 
em quantidades iguais.
as pernas tremiam. o coração batia por todo o corpo. 
já não podia voltar atrás. era só uma questão de tempo. 
respirou fundo.
sorriu.

e, no silêncio que então se tinha criado, ecoou a sua decisão e deixou-a  registada em cada pessoa que ali estava. 

tentou ainda agarrar as palavras no segundo seguinte, mas as palmas tinham-nas já agarrado e as palavras dos outros começaram a misturar-se com as suas e era impossível separá-las. 

nem ela queria.

queria o desejo. não o medo.

estava registado. não havia volta atrás.

24.4.13

noites de verão

enquanto chega a primavera, chamamos-lhe já verão. talvez pelo prolongado do inverno. talvez pelo calor que já sente. mas, hoje, sem dúvida, por finalmente ter desfrutado da minha esplanada até mais tarde, com alguns amigos à volta. 

é o início do verão no corpo e na alma.

17.4.13

há dias XXX

há dias em que olhamos para trás e sentimos que nada foi errado e fazemos as pazes com tudo o que vivemos.
há dias em que sabemos que tudo valeu a pena e que até foi bom afinal que tivesse sido desta maneira.

há um dia em que o futuro começa a ser mais importante do que o passado.

30.3.13

acabou hoje


fazer um puzzle de 1500 peças parece-se muito com a vida. 
a persistência. o medo. a alegria. o cansaço. as surpresas. a companhia. as escolhas. o tempo a passar. a paciência. os objectivos. o riso. as dúvidas. a conquista. 
tudo existe num puzzle de 1500 peças como na vida. 
impressionante!

27.3.13

um brinde aos amigos


“Às vezes é preciso calar algumas palavras 
para a imagem falar”
diz Isabel Minhós Martins.  





9.3.13

histórias incríveis II


Truca-Truca
Já que o coito – diz Morgado –
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou – parca ração! -
uma vez. E se a função
faz o orgão – diz o ditado –
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.
(com enquadramento aqui)

é o riso puro!

28.2.13

ser feliz


"Se perguntarmos à maioria o que quer da vida, a resposta é simples: ser feliz.
Mas talvez seja a expectativa, o querer ser feliz, que nos impede de lá chegar.
Se calhar, quanto mais tentamos atingir estados de alegria, mais confusos ficamos. Ao ponto de não nos reconhecermos. Em vez disso, continuamos a sorrir. E esforçamo-nos imenso por sermos as pessoas felizes que queremos ser. Até que nos ocorre finalmente. Sempre esteve lá. Não nos nossos sonhos ou esperanças, mas no que conhecemos, no que para nós é confortável, familiar."

da anatomia de grey

27.2.13

para a vida

- ui! que canseira, credo. isto às vezes, mais valia era estar quietinha, porque quando se começa é que se vai andando e nunca mais se acaba, porque se descobre que afinal há ali mais qualquer coisinha para ser limpa e arrumada e para ir para o lixo. nunca mais acaba. ui! para o ano já não faço isto. 
mas também... digo sempre isto e faço outra vez... oh... é tão bom  depois ver isto tudo novinho como se fosse começar tudo outra vez... não é?

(escrito no caderno, no início do ano, depois de uma conversa com a T., a propósito da cave da escola)

22.2.13

portugueses

e que na História fique escrito, sim, que somos criativos quando começa a ser demais e que lutamos com toda a nossa potencialidade.
o meu maior respeito por quem tem feito vingar ideias.

21.2.13


Poderia o nosso Universo acabar engolido por outro?



correr III

corres tanto
tantas vezes
corres tanto 
pra tão longe
corres tanto

corres tanto
e nem gostas de correr
e corres
e corres

e enquanto corres
bate-te o vento na cara
mas nem o sentes
porque a correr 
vai também o coração
e a sofreguidão
e a solidão
e não

tu não gostas de correr
mas não consegues parar
com medo de perder
com medo de te perder
de lá não chegar
de não conquistar
de não seres
de perderes
de te perderes

pára
pára agora
pára um pouco

respira

bebe a água límpida da fonte

aprecia

desfruta

sente o vento 
que te batia 
há pouco 
na cara

confia

e corre
corre 
corre agora
para aproveitar
para amar

confia

corre agora
mais devagar

19.2.13

grita

- e se te apetecer, grita - que os meus ouvidos estão preparados para te ouvir gritar. sabes que não vais pensar, sabes que não vais ter toda a razão, sabes que vais magoar se mais alguém te ouvir e sabes que nem tudo se vai perceber. mas grita. grita agora. não guardes esse grito mais tempo. para quando não o puderes ou souberes dar. grita agora - que os meus ouvidos estão preparados para te ouvir gritar e a estrada está vazia e há todo o tempo do mundo para o grito que aí está. grita.

17.2.13

o fugitivo


Um homem corre na noite 
é uma imagem banal 
podia ser em Madrid 
ou Johanesburgo, ou em S. Paulo 
ou Budapeste, Nova Iorque 
ou Hollywood 
ou é claro em Portugal 
um homem corre na noite 
é uma imagem banal 

Porque foge? De onde vem? 
porque olha para trás inquietado? 
será soldado? vagabundo? 
criminoso? ratoneiro? 
será apenas o primeiro 
dos que vão fugir com ele? 
foge p´ra salvar a pele 
só a sua? a pele dos outros? 
a pele clara ou a escura? 
quanto tempo vai durar a sua fuga? 
quanto dura? o que espera? 
o que espera o homem- fera 
se chegar a quem o espera? 
alguém o quer? alguém se acende 
alguém o chora? 
alguém por quem ele chorou 
chorará por ele agora? 
alguém que nunca o trairá 
e se sim, onde será? 

Um homem luta contra o sangue 
que derrama 
e diz: valeu a pena? 

Que os barcos 
voltem a subir o Guadiana 
vindos de longe 
do mar 

Que os barcos 
voltem a subir o Guadiana 
descarregando à passagem 
todo o trigo 
que o cavalo esbaforido 
chegue à relva, sua cama 
que o fugitivo 
encontre seu porto de abrigo 

Um homem corre na noite 
é uma imagem banal 
esgueirado de holofotes 
com a estrada que atravessa 
se confunde 
com o breu o seu corpo 
se confunde 
e se passa num muro branco 
fica branco como a cal 
tal e qual 
o camaleão 
é uma imagem banal 

Um homem luta contra o sangue 
que derrama 
em que cama 
terá ele o seu repouso? 
está ansioso? e como não? 
não estaria quem pisasse 
um desconhecido chão? 
não estaria de garganta afogueada 
quem por nada 
assim fugisse? 
quem por tudo suplicasse 
dai-me forças, dá-te forças 
a ti próprio te confias 
dá-te alento, dá-te tempo 
dá-te dias 
sobrevive de agonias 
respirando sobrevives 
sobrevive 

Um homem vive 
contra o sangue 
que derrama 
e diz: vale a pena? 

Que os barcos 
voltem a subir o Guadiana ... 

Um homem corre na noite 
é uma imagem banal 
porque insiste? porque teima? 
não há pânico na rua 
não há fogo no quintal 
labaredas? só nas camas 
dos amantes 
já distantes 
chegam ruídos, utopias 
quanto vale uma utopia? 
vale tudo? quanto vale? 
um homem corre na noite 
é uma imagem banal 

O que fez o fugitivo? porque corre? 
se está vivo é porque morre 
se morrer é porque o matam 
se o matarem ,será justo? 
inocentes são os culpados de outros crimes 
de que culpa? 
de paixão? de inconsciência? 
será justo ou não será 
desbaratar a inocência 
tão a custo conquistada? 
porque corre o fugitivo nessa estrada? 

E agora para para agora 
o homem para 
para agora para agora 
será que sente que chegou a sua hora? 

É impossível 
não é possível 
correr tanto 
e pensar tão 
lucidamente 
o coração 
não aguenta 
a cabeça também não 
porque tenta 
ultrapassar os seus limites? 
provavelmente 
é por vontade de viver 
(quente quente ...) 
que ultrapassa os seus limites 
«Estamos quites!» 
diz para o seu coração 
«Ainda não, ainda não ... 
sentes que valeu a pena? 
se te obrigam a fugir 
mais te obrigam 
a chegar junto de ti 
valeu a pena?»

sérgio godinho


para ouvir aos ouvidos e deixar o arrepio crescer pela quantidade vezes que já tivemos de fugir e chegar mais junto a nós

16.2.13

fim do dia

em reunião de trabalho discute-se um novo recomeço para a escola. 
em casa da amiga fala-se do passado para construir o futuro.

e, quando se chega a casa, descobre-se ainda que 

e que
um grupo de pessoas levantou a voz na assembleia.


este é um grande fim de dia


14.2.13

histórias incríveis



esta

comove-me a história do seu corpo e de como ele é abusado.
comove-me que haja uma mulher que, mesmo depois da morte, arraste um mundo para lhe devolver a dignidade.

27.1.13

prenda da tia C.


Now that you got it right
Bring love and it'll make it alright
Bring love and we'll take it tonight
Now that you got it right


Now that I understand this right
Let me take it to the mic
This revolution has just begun



parabéns

5 anos

23.1.13

caminho

aquela floresta tinha sido dura de atravessar
mas o coração tinha finalmente acalmado 
e a luz da lua 
naquela clareira
trazia-lhe a possibilidade de adormecer sossegada

amanhã continuaria o caminho
por agora respirava



21.1.13

começa hoje

1500 peças
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