28.12.09

há dias XIV




há dias em que temos que calar os nossos demónios e dar voz às nossas convicções.
esses são dias gratificantemente difíceis de viver.


27.12.09

carta IV

querida amiga,

chegou dezembro e a vontade de olhar para o ano todo.
aquele que começou já no longínquo janeiro.
já sei que não vais ter nenhum dia de férias e que isso te rouba o relaxe e a calma que gostas de ter para pensar nos teus desejos e sentires o que ficou no teu corpo do ano que passou. sei que é um verdadeiro prazer para ti.
por isso te escrevo esta carta rápida, já em fim de fim de semana. no próximo já estamos no novo ano. por isso te escrevo já. para te dizer que tiveste um grande ano. que sei que estás cansada e que gostavas de ter chegado mais além em algumas coisas e não ter chegado a outras. que gostavas que alguns caminhos tivessem sido menos tortuosos e menos solitários. mas tu sabes que eu acho que ainda assim valeu a pena - e vai valer.
[e sabes que tu própria achas que valeu a pena - e vai valer]
tiveste grandes coisas a acontecer-te,não foi?
tiveste momentos fortemente bons, não foi?





continuo a confiar muito em ti e sei que, no fundo, te sentes feliz.
aproveita bem o 2010.
acho que vais ter boas surpresas.

um abraço muito forte

p.s - devias ter feito a máquina de roupa ontem. olha o que chove agora!



14.12.09

harmonia



talvez por serem tão raros
os momentos em que um homem ou uma mulher
se sentem em total harmonia com o mundo
eles sejam tão procurados e desejados



conversas de amigos

- quando eras pequenino o que é que querias ser quando fosses grande?
- eheh, queria ser uma coisa diferente todos os dias.

8.12.09

TED´s



há algum tempo que o i. me falava deste sítio e há algum tempo que eu adiava a visita. queria que eu visse isto. e eu demorei algum tempo. mas agora já lá fui e parece que descobri um mundo novo. um mundo grande. agora vou fazendo visitas diárias e descobrindo pequenas maravilhas.






esta foi a de hoje. fantástico.

"Success is in the doing. And failures are celebrated and analysed. Problems become puzzles and obstacles disappear."

(obrigada pela insistência i.)

3.12.09

chore





chore, chore muito.
chore tudo o que tem a chorar.
chore sempre que precisar.
chore muitas vezes ao dia.
chore mesmo se achar que não precisa.
chore em casa, no metro, no café.
chore com barulho, desafinado, com soluços.
chore com lenços ao lado ou de mangas compridas.
chore sozinho, com amigos ou desconhecidos.

chore enquanto lê, enquanto cozinha, enquanto conduz, enquanto caminha.
grite enquanto chora. diga palavrões, fale alto, invente discursos.
chore por tudo e por nada.


mas não se esqueça de chorar.





(porque é que quando temos ataques de riso a cabeça não pensa muito e quando temos ataques de choro parece que vai explodir?
porque é que quando temos ataques de riso o mundo é maravilhoso e quando temos ataques de choro o mundo parece que vai acabar?)





20.11.09

arquivo da história pessoal

hoje visitei o arquivo da santa casa da misericórdia de lisboa e o museu de são roque e percebi que o facto de acumular muitas coisas e de ir guardando pequenas recordações de pequenos momentos pode ser uma grande qualidade. pode ser uma tentativa de contar uma história. a minha história pessoal. a minha história pessoal no mundo. e que isso pode ser muito importante. mas, acima de tudo, percebi que se quero que estes gestos tenham essa importância, então terei de me dedicar à forma como vou guardando essas coisas e essas recordações. se não estiverem bem aconchegadas e legendadas, desaparecem com certeza com o tempo e então não vale a pena estar a acumular e a guardar. isso será apenas um monte de lixo triste e contará mal a história.
(dava-me jeito uma sabática para fazer isto com calma)

16.11.09

oh happy days




este natal, se tudo correr bem, vou receber de presente a participação num coro de gospel.
what a happy day!

12.11.09

é um prazer acabar um trabalho que deu muito trabalho a acabar.

8.11.09

"tens mais medo do escuro ou do silêncio?"

a rapariga do copo de água

- Após estes ano todos, o único personagem que ainda não consegui captar foi a rapariga do copo de água. Está no centro do quadro mas parece estar de fora.
- Talvez seja só diferente dos outros.
- Diferente em quê?
- Não sei... Quando era pequena brincava pouco com outros meninos. Talvez até nunca.
(...)
- A rapariga do copo de água... O ar alheado pode ser por estar a pensar em alguém.
- Alguém do quadro?
- Mais um rapaz conhecido noutro lado... Mas sente que são parecidos, ela e ele.
- Dito de outra maneira, ela prefere imaginar uma relação com um ausente a criar laços com os presentes?
- Ou talvez tudo faça para emendar a baralhada da vida dos outros.
- Mas a baralhada da vida dela, quem emenda essa?
- Sempre é melhor dedicar-se aos outros que a um duende de barro.
(...)
- Diga-me cá, aquele rapaz, ela voltou a vê-lo?
- Não, afinal não se interessam pelas mesmas coisas.
- A sorte é como a Volta à França; fartamo-nos de esperar e num segundo já passou. Chegado o momento há que saltar a barreira sem hesitações.
(...)
- Então é aquele ali, o da mão no ar. Está apaixonada por ele? Quanto a mim chegou o dia de ela arriscar tudo por tudo.
- Anda a pensar nisso, a preparar um estratagema para...
- Como gosta ela de estratagemas... Na verdade é um pouco cobarde. Deve ser por isso que não consigo captar a expressão.
(...)
- A Amélie não tem ossos de vidro, bem pode levar pancada da vida. E deixa passar a oportunidade. Com o tempo é o seu coração que será tão seco e quebradiço como o meu esqueleto. Vá em frente, raios!
O Fabuloso Destino de Amélie Poulain

7.11.09

pequenos prazeres solitários




cozinhar ao som de música
que esteja em sintonia
com o nosso estado de alma.




4.11.09

há dias XIII



há dias em que apetece ter um cavalo dourado e desatar a galopar por aí.

carta III

querida amiga,
tenho reparado no teu esforço para te organizares. dentro e fora de ti. tenho admirado isso.
vi que arrumaste o escritório e deste continuidade ao teu projecto de arrumar o passado deitando fora o que já não interessa. sei que andas a usar a agenda e que tens feito as coisas a que te propões de uma forma mais ou menos regrada. sei que te tens deitado tarde. que te tens dedicado ao trabalho ainda que de vez em quando te custe identificares-te com o que te pedem.
queria só mesmo dar-te uma força e mandar-te um grande abraço.
estou sempre contigo.
p.s - consegues mandar-me aquela música que estavas no outro dia a ouvir na cozinha. era o quê?

31.10.09

coisa legal


"sei lá! eu não sei o que é que eu quero prá ela... eu queria tanta coisa legal! sabe, tipo...
que ela ria muito, que ela não fique pesada nunca...
sei lá! queria troço legal. (...) também não sei. de repente o legal meu não é o legal dela."

elis regina sobre maria rita

29.10.09

parênteses

(acabei de me chatear com o meu próprio blogue que não respeita a formatação que pretendo dar aos posts. é enervante!)

outubro, outubrão

de manhã inverno
à tarde verão
[à noite
constipação]
dá-se-me aqui um mimo com esta espécie de ameaça de gripe.
dá-se-me aqui uma vontade de chá e mel e de alguém que surpreendentemente me traga laranjas porque fazem bem aos estados gripais.
ficamos tão pequeninos quando nos dói a cabeça e a garganta. quando a todo o instante parece que a febre vai desatar a subir. quando o pingo insiste em sair sem pedir licença.
ficamos assim com necessidade de quentinho e de alguém que nos puxe os cobertores para cima e não tenha medo de apanhar a nossa dor de garganta e de cabeça.

28.10.09

sensações a lembrar de vez em quando

a luz do sol poente a bater nas fachadas dos edifícios lisboetas. as papoilas vermelhas no início da primavera. o som do vento a passar de fininho nas persianas da escola. um estendal de roupa branca. pão quentinho com manteiga derretida. o cheiro do mar. O Beijo de Klimt. a pele de um bebé recém nascido. abraçar uma árvore milenar. um sorriso por entre a multidão. a fotografia de parentes distantes no tempo. o abraço apertado mata-saudade. o céu azul, já noite. a voz masculina a ler ao adormecer. os dedos das mãos a brincar por entre a relva. palavras ditas ao ouvido. duas ou três pessoas a despedirem-se emocionadamente na plataforma de campanhã. a água límpida do riacho do vale da teixeira a tocar a cara. uma maçã verde. um prado imenso a perder de vista. o cheiro dos lençóis lavados e passados a ferro. a cor da lua ainda próxima da linha do horizonte. a água a receber o corpo depois de um grande mergulho.

27.10.09

há dias XII

há dias em que conseguimos concretizar uma das grandes decisões de passagem de ano.
esses são grandes dias.

25.10.09

anoiteceres


as seis da tarde
vão passar a ser
as seis da noite.
os dias vão ficar
pequenininhos.
vou sair do trabalho
já de noite.

(...)

tenho pena.
hoje tenho
muita pena.
talvez
por ser
domingo.

(...suspiro...)



16.10.09

tossiu
tossiu
tossiu

e a maçã lá saiu.

12.10.09

a menina e a maçã

a menina
coitadinha
fartava-se de tossir
para tirar
aquele bocado de maçã da garganta.
mas
o safado
teimava em não sair.

11.10.09

todo cambia





Cambia lo superficial
Cambia también lo profundo
Cambia el modo de pensar
Cambia todo en este mundo

Cambia el clima con los años
Cambia el pastor su rebaño
Y así como todo cambia
Que yo cambie no es extraño

Cambia el mas fino brillante
De mano en mano su brillo
Cambia el nido el pajarillo
Cambia el sentir un amante

Cambia el rumbo el caminante
Aúnque esto le cause daño
Y así como todo cambia
Que yo cambie no es extraño

Cambia todo cambia
Cambia todo cambia
Cambia todo cambia
Cambia todo cambia

Cambia el sol en su carrera
Cuando la noche subsiste
Cambia la planta y se viste
De verde en la primavera

Cambia el pelaje la fiera
Cambia el cabello el anciano
Y así como todo cambia
Que yo cambie no es extraño

Pero no cambia mi amor
Por mas lejo que me encuentre
Ni el recuerdo ni el dolor
De mi pueblo y de mi gente

Lo que cambió ayer
Tendrá que cambiar mañana
Así como cambio yo
En esta tierra lejana

Cambia todo cambia
Cambia todo cambia
Cambia todo cambia
Cambia todo cambia

Pero no cambia mi amor...

10.10.09

há dias XI

há dias em que tiramos o pijama só às seis da tarde.
"Que sentido faz (...) gerir os nossos dias de forma mais eficiente, se não compreendemos para que servem esses mesmos dias e para onde nos conduzem?"

29.9.09

verões II

há verões que não queremos que acabem nunca e que estamos sempre a tentar que se prolonguem para além dos calendários e do tempo a passar e do trabalho que já começou.
[por mim, este ano, fazia as malas e ficava por lá no verão mais um pouco
- até o frio me vir lembrar que era tempo de voltar.]
há verões assim, em que temos tempo para viver muitas das aventuras e das emoções que procurávamos. em que usufruimos do sofá, da toalha de praia, da tenda, do saco cama, do banco do carro ou da carrinha e da terra. em que o coração vem cheio de pessoas e de imagens que não queremos largar.
[por isso, esta dificuldade em trocar o caderno de linhas por este monitor e estas teclas]
há verões que sabem mesmo bem.

22.9.09

não é este o regresso definitivo a uma regularidade,
mas uma expressão da vontade e necessidade de aqui voltar.

estarei para breve...

6.8.09

She came from Greece she had a thirst for knowledge, she studied sculpture at Saint Martin's College, that's where I, caught her eye. She told me that her Dad was loaded, I said "In that case I'll have a rum and coca-cola. "She said "Fine." and in thirty seconds time she said, "I want to live like common people, I want to do whatever common people do, I want to sleep with common people, I want to sleep with common people, like you." Well what else could I do -I said "I'll see what I can do." I took her to a supermarket, I don't know why but I had to start it somewhere, so it started there. I said pretend you've got no money, she just laughed and said, "Oh you're so funny." I said "yeah? Well I can't see anyone else smiling in here. Are you sure you want to live like common people, you want to see whatever common people see, you want to sleep with common people, you want to sleep with common people, like me. "But she didn't understand, she just smiled and held my hand. Rent a flat above a shop, cut your hair and get a job. Smoke some fags and play some pool, pretend you never went to school. But still you'll never get it right, cos when you're laid in bed at night, watching roaches climb the wall, if you call your Dad he could stop it all. You'll never live like common people, you'll never do what common people do, you'll never fail like common people, you'll never watch your life slide out of view, and dance and drink and screw, because there's nothing else to do. Sing along with the common people, sing along and it might just get you through, laugh along with the common people, laugh along even though they're laughing at you, and the stupid things that you do. Because you think that poor is cool. Like a dog lying in a corner, they'll bite you and never warn you. Look out. They'll tear your insides out. 'Cause Everybody hates a tourist, especially one who thinksit's all such a laugh. Yeah, and the chip stains' greasewill come out in the bath. You will never understand how it feels to live your life with no meaning or control and with nowhere left to go.You're amazed that they existand they burn so bright, while you can only wonder why. I want to sleep with common people like you, I want to sleep with common people like you...
pulp

4.8.09

pequena piada

em agosto não há quase nenhum post(o)

24.7.09

julho em lisboa

o tempo em lisboa aumenta em julho.
os carros começam a partir para férias, as ruas alargam, os lugares para estacionar crescem.
há fachadas de prédios que renascem e esplanadas que se vêm do outro lado da rua.
os passeios têm mais metros, os autocarros têm sempre lugar.

julho em lisboa é maravilhoso.
chega-se a tempo e tem-se mais tempo.
pode viver-se mais.

(não fosse a necessidade absoluta de férias,
elegia julho o melhor mês em lisboa)

21.7.09

um dia começo a escrever horóscopos

"It isn't wise to wait for someone to change. What you see is what you get. If you have to make changes to build a better life, stop making excuses. Things rarely turn out the way you expect. Stand up for what you need each day. The future will take care of itself."


no fundo, basta incentivar as pessoas de cada signo a viver a sua vida bem vivida. e para isso há imensas frases que se podem sabiamente escrever.

16.7.09

coisas simples


16 de Julho. o único dia do ano em que falo com o meu irmão ao telefone e sei que ele me telefonará no dia a seguir. dizemos "então até amanhã!" e rimo-nos sempre. todos os anos.


15.7.09



Vou viver

até quando eu não sei
que me importa o que serei
quero é viver

Amanhã, espero sempre um amanhã
e acredito que será
mais um prazer


(antónio variações)





todo o dia a trautear esta música.
e um sentido imenso a ecoar por aqui fora.




13.7.09

há dias X



há dias que duram até ao dia seguinte.
e agradavelmente perduram nos dias a seguir.


1.7.09

escritos de rajada

"vamos amigos aqui à volta desta fogueira dar-nos todos como se estivessemos sozinhos e nada houvesse a prender-nos. vamos amigos nesta noite que finda dizer todas as palavras que ficaram engasgadas encravadas empancadas. vamos todos amigos abrir as portas as janelas as varandas e criar a nossa aldeia. vamos todos vamos. vamos mostrar que é possível a paz a alegria a coragem a vida. vamos amigos. façamos este último esforço. vamos. começo eu."

o orador contou então do arrepio que sentiu quando em plena caminhada se viu sem água sem comida e já sem força. contou então do medo que sentiu quando todos pareciam esmorecer no fim de três dias a tentar levantar o telhado. contou então das tristezas que passou com o seu coração despedaçado naquela tarde em que a rapariga loura lhe negou um beijo um abraço um carinho (a rapariga loura corou). contou que tivera sido ele a esgotar a bilha de gás à força de precisar de luz para acabar de escrever. foi interrompido pelo homem de bigode que houvera ficado com a responsabilidade de a repor e de como lhe doeram os pés por tê-la ido buscar montanha abaixo montanha acima. e da raiva que sentiu e de como partiria a cara da besta que o fez fazer aquele caminho. a voz era elevada e a face encarnada. o orador pediu desculpa pela cobardia do momento e ofereceu a cara. o homem do bigode usou-a mesmo. para um murro. um só murro. a rapariga do casaco vermelho tipo canadiana levantou-se e amparou o orador e falou da noite em que dormiu fora da casa porque alguém fechara a porta e se esquecera de que ela tinha descido a buscar o pão que faltava para a manhã seguinte. disse da pena que tinha de não ter vontade nem possibilidade de partir também ela a cara a alguém porque todos todos eram responsáveis por essa noite e do mal que lhe soubera aquele pão que ainda assim partilhou com todos. fez-se um silêncio. a menina das botas pediu licença para quebrar o silêncio mas que tinha de tirar lá do fundo do pensamento todas as discussões tidas cegamente com o rapaz das jardineiras e o homem do bigode sobre a melhor maneira de carregar os jerricãs de água para o cimento. e que sim lhe houvera custado trazê-los todos os dias e que não não tivera sido uma tarefa até gloriosa e que sim a arrogância a martelara nas costas nos braços nas pernas no orgulho. falava apressada. o orador riu abraçando-a e lembrando as sandes que haviam feito juntos para levar a quem estava já no trabalho das últimas telhas. o baixinho brincou com as estafetas feitas para que essas sandes chegassem lá acima intactas. a rapariga loura confessou o ciúme sentido por não ter sido ela a fazer as sandes e que o beijo pedido estava ainda por dar. o orador corou. e sorriu. o baixinho levantou-se e falou de pé porque queria mesmo ser ouvido sobre a decisão que tomara de partir no meio da jornada montanha abaixo para ver o jogo da final. de como a culpa o acompanhara no caminho e de como não era o jogo que o fazia descer mas a necessidade de estar sozinho e controlar um pouco dos seus dias. a rapariga loura invejou-lhe a coragem de ter ido por ter sentido também ela vontade de ir por aí e sentir-se a si mesma. que em vários momentos se deixou ir pelo grupo e que assim se sentira a viver uma vida que não era a sua e que sentira o seu lugar desnorteado e que nem sabia bem do espaço que tinha sido o seu porque definitivamente não o soubera criar e que as palavras foram ficando cada vez mais engasgadas e que o cansaço lhe pesava e que tudo o que queria para descansar era o abraço do orador. se ainda tinha para lho dar? o orador sorriu e docemente abriu-lhe os braços. no seu colo a rapariga loura respirou fundo. o rapaz das jardineiras puxou a guitarra e soou o que força é essa que trazes nos braços e o homem do bigode não pode deixar de sorrir contagiando as vozes. a menina das botas fechou os olhos e assim ficaram noite dentro cantando.

29.6.09



há sábados que parecem domingos
há domingos em que não apetece que seja segunda

(i e m e c)

24.6.09

a vida afinal acontece muito de repente



"A vida às vezes é como um jogo brincado na rua: estamos no último minuto de uma brincadeira bem quente e não sabemos que a qualquer momento pode chegar um familiar a avisar que a brincadeira já acabou e está na hora de jantar. A vida afinal acontece muito de repente - nunca ninguém nos avisou(...)"
Ondjaki

23.6.09

mas eu ainda não brinquei nada



lembro-me de ser pequena e achar que o tempo nunca era suficiente para tudo o que queria brincar. os meus pais chegavam, no fim de um dia ou de uma noite, com o sorriso de "está na hora de irmos" e eu, no meio de um monte de brinquedos espalhados, defendia-me imediatamente com a clássica frase "mas eu ainda não brinquei nada". queria sempre mais e esperava sempre ter energia para viver todas as brincadeiras que fossem possíveis, com o máximo de amigos que fosse possível.

aos trinta anos tenho a mesma sensação.
a mesma vontade de aproveitar tudo até ao limite. de inventar sempre mais coisas para aproveitar. de ter os amigos por perto.

ontem, no primeiro dia de verão, o maior dia do ano, senti uma vontade enorme de que ele fosse ainda maior e as horas aumentassem e eu tivesse tempo de passar por todos os sítios onde queria ter passado e de não ter de dizer a mim própria "está na hora de irmos".

até quando vou ter a sensação de que, apesar de ter brincado bastante, "ainda não brinquei nada"?


19.6.09

Life On Mars




(...)
Quantos sonhos já destruí
E deixei escapar das mãos
E se o futuro assim permitir
Não pretendo viver em vão
Meu amor não estamos sós
Tem um mundo a esperar por nós
(...)



(de cristina para cristina com um almoço pelo meio)


14.6.09

há dias IX




há dias em que apetece fazer da vida só dança.




8.6.09

sarcáustico

um amigo cá de casa também anda a poupar palavras. por isso deixou de dizer sarcástico e cáustico em separado.

6.6.09

relíquias...


... partilhadas há poucos dias numa sala de uma casa lisboeta já sem cassete ou uma espera imensa pelo top+. já sem os quinze anos. sem os amigos dos quinze anos. com amigos que não estiveram nos meus quinze anos mas era como se estivessem estado.
...sempre boas de revisitar.

31.5.09

há dias VIII



há dias em que subimos ao sótão
escolhemos o que realmente interessa para contarmos a nossa história
e deitamos fora o que só está a ocupar o espaço do presente e do futuro.
esses dias são muito muito cheios.




24.5.09

inesperadamente





num determinado momento

inesperadamente
quando menos achamos que alguma coisa vai acontecer

surprendemo-nos

com as possibilidades criativas que há dentro de nós
com os mundos que conseguimos criar
com as voltas que conseguimos fazer o mundo dar
com as histórias que podemos alterar
com a incrível resistência que temos
com os limites que afinal são superiores ao que imaginávamos

inesperadamente

vem do mais fundo de nós uma voz acompanhar as nossas ideias e fazer-nos dançar
vem lá do fundinho uma força enorme tocar-nos o corpo todo
o corpo todo
e fazer-nos seguir os impulsos do que desejamos

inesperadamente

quando nos damos espaço para tudo poder acontecer
tudo começa realmente a querer acontecer



(de cristina para cristina com um fim de semana pelo meio)


17.5.09



riquinha, resolvi realizar uma remodelação...


(x. e c.)



(é talvez das coisas mais divertidas
falar com frases onde as palavras
começam todas com a mesma letra)



mudanças

às vezes soa-nos que a vida não nos está a correr muito bem e criamos uma série de teorias para o facto de estarmos descontentes e chegamos a acreditar nelas e a ficar mesmo descontentes.
depois decidimos mudar os móveis da sala e volta a vontade de rir.
é espantoso como o segredo é simples.

12.5.09

há dias VII



há dias em que não encontramos o nosso lugar.


11.5.09

Sempre Foi Assim


Corre, corre meu menino
estica o peito para a frente
mete pernas ao caminho
meu dezreizinhos de gente
e até mais ver

Mete pernas pelo mundo
escreve de terras distantes
um postal de vez em quando
p´ra lembrar como era dantes
e até mais ver

Anda comigo
e já vais ver que não te minto
quando digo
que já sinto
o que vai ser
em nós diferente

Sempre foi assim
dizem
sempre foi assim
sempre foi assim
mas está a ser diferente

Atende em todos os lugares
no que muda e no que não
andes lá por onde andares
escolhe bem o teu irmão
e até mais ver

Não há só irmão de leite
não há só irmãos de vinho
aceita quem te quer aceite
escolhe, escolhe meu menino
e até mais ver
anda comigo
e já vais ver que não te minto
quando digo
que já sinto
o que vai ser
em nós diferente

Sempre foi assim
dizem
sempre foi assim
sempre foi assim
mas está a ser diferente

Tempo, tempo já passou
E gente como tu crescendo
dá-me força no que sou
para ser o que vou sendo
e até mais ver

Tempo, tempo que vier
há-de ser p´ra ti diferente
luta, luta meu amor
meu dezreizinhos de gente
e até mais ver

Anda comigo
E já vais ver que não te minto
quando digo
que já sinto
o que vai ser
em nós diferente

Sempre foi assim
dizem
sempre foi assim
sempre foi assim
mas está a ser diferente


Sérgio Godinho

5.5.09

vasco



se eu tivesse nascido rapaz era o nome que teria tido por causa deste vasco.



3.5.09

diálogo curto




- o que é que aconteceu ao mundo que não está a ser capaz de gerar carinho?
- hum...

monólogo curto





haliwuhajhgfhbvsuytksbgkdjbdjgksuytlaxmcnbvh
eusl uewuig ugelugnb suiefbsgseb uesgiug klhgagrhgarh iareonrlkzngir irnhzlzinlbi inffstreepmbxmbvxlçhg jguudlasgsgbsghg.



28.4.09

correr II

o tempo passa a correr ou somos nós que corremos tanto que o tempo passa mais depressa?

corremos tanto. corremos todos os dias.

para chegar a horas ao trabalho. para apanhar a loja aberta. para conseguir dar conta das sete tarefas a que nos propusemos. para não perder aquele café com o amigo. para lanchar com calma. para não começar a fazer a digestão antes do banho que tem de ser tomado. para chegar ao jantar por que tanto ansiámos. para não sentirmos que não estamos a fazer nada. para aproveitar as oportunidades que nos são dadas e que achamos que não podemos mesmo perder.

corremos demais às vezes.
corremos muito.

sempre gostei mais de caminhar do que de correr.

talvez seja melhor voltar a esse prazer.
talvez não seja preciso correr tanto.

27.3.09

alguém cantando

numa sala de jardim de infância uma educadora canta e duas crianças acompanham à pandeireta. as outras crianças fazem nascer um silêncio absoluto.
é quase tão bom de se ouvir.







Alguém cantando longe daqui
Alguém cantando ao longe, longe
Alguém cantando muito
Alguém cantando bem
Alguém cantando é bom de se ouvir

Alguém cantando alguma canção
A voz de alguém nessa imensidão
A voz de alguém que canta
A voz de um certo alguém
Que canta como quer pra ninguém

A voz, de alguém quando vem do coração
De quem mantém toda pureza
Da natureza
Onde não ha pecado nem perdão

23.3.09

há dias VI



há dias em que chegamos de grandes viagens e temos de nos dar tempo para desfazer as malas.


6.3.09

burruim

cá em casa andamos a poupar palavras. por isso deixámos de dizer burra e ruim em separado.

3.3.09

a minha avó



quando o mês de março entra no calendário lembro-me sempre da minha avó por ter sido o mês em que ela morreu. hoje, numa conferência, o Daniel Sampaio falava da importância da relação avós-netos e a minha cabeça encheu-se de recordações que me trouxeram uma saudade imensa. então, hoje, passados cinco anos, voltei a ler uma carta que me escrevi a mim, no dia em que ela morreu, para ter a certeza de que não me iria nunca esquecer de como éramos. de como ela era e eu a via. uma carta também para ela, na ânsia de não me estar a despedir.

hoje tenho saudades dela.



"14 Março 2004


Foi hoje embora a minha avó.
Com 94 anos.
Foi juntar-se à terra. Foi juntar-se a Deus.
Entendia-se muito bem com eles.
Da terra sabia muitos segredos. Com Deus tinha um entendimento tão grande que soube esperar e, finalmente, pedir-he que a juntasse a Si - começava já a ficar zangada com Ele por nunca mais a ouvir.
A minha avó sabia muitas coisas. Sabia provérbios que batiam sempre certo com a realidade. Sabia ler. Sabia o tempo que ia fazer. Sabia falar com as plantas. Sabia como fazer as galinhas sentirem-se umas rainhas.
A minha avó limpava os caixotes de lixo e contava as moscas que matava.
A minha avó rezava alto e pedia protecção para nós todos e para os seus amigos.
A minha avó levava-me à missa e, quando não pode mais ir, ouvia-a cada vez mais alto na televisão, porque os seus ouvidos ouviam cada vez menos.
A minha avó sabia muitas palavras e dizia "bou buer um bucuado d´áuga".
A minha avó sabia todos os medicamentos que tinha que tomar e era ela quem os contava e trazia para a mesa.
Fez de mim sua cabeleireira quando, ao não poder mais fazer o seu carrapito sozinha, me pediu que lhe cortasse o cabelo curtinho.
Fez de mim seu boletim informativo quando deixou de conseguir ler o jornal e me pedia que o fizesse.
A minha avó teve graças para dizer até ao último momento.
A minha avó era muito teimosa, muito casmurra. Viveu até ao fim. Tratou de si até o coração lhe pedir "Bina, deixa-me descansar."
Sabia o que tinha deixado por fazer e disse algumas vezes que "o milho ficou por debulhar em casa da Tia Clara."
A minha avó ralhava, era intransigente, mandona. Tinha muitas zangas com ela. Ouvia conversas. Criticava os meus amigos. Falava das horas a que eu chegava. Mas eu sei que gostava muito de mim e eu sei que também gostava muito dela. Pena os silêncios. Pena as horas não aproveitadas. Os dias não aproveitados.
A minha avó ensinou-me a coragem de viver e de lutar e só hoje é que eu percebi. Nos seus últimos dias no hospital, recusou-se a ter mais tubos e máscaras. "Eu estou melhor sem isto" - dizia ela da máscara. Amarraram-lhe as mãos e os pés. À minha avó, que quis andar sempre e deixar o tempo passar no seu corpo. Mas, na falta da sua integridade, tenho a certeza que ela decidiu a sua hora, como sempre decidiu tudo na sua vida.
Viveu os últimos anos em casa sem enlouquecer. Sempre ligada à vida terrena e aos dias que passavam.
Despedi-me dela no dia 9 de março.
Disse-me "Vai com Deus" e, pela primeira vez, parecendo que adivinhava, respondi-lhe "Fique com Deus, avó"
Vem amanhã.
Não viu o Lombomeão pela última vez. A sua terra. A sua vida.
A minha avó foi embora num dia de sol quentinho. Num daqueles dias em que ela gostava de se sentar no pátio e ficar a olhar, por baixo do seu chapéu, o quintal a que se dedicou sempre.
Apertou-me a mão com força a última vez que a vi e procurou o meu olhar. Explicou-me exactamente o que se deve fazer para que as plantas não passem sede. E ficou a olhar para mim. Despedimo-nos assim com o olhar uma na outra.
Avozinha, descansa agora em paz. Não sejas tão teimosa aí desse lado. Trata bem as pessoas como tu sabes fazer. Conversa com a Alzira e manda-lhe beijos meus. Não te zangues por não te termos contado do tio João... queríamos ter-te mais um bocadinho.
Prometo-te, avó, que vou tentar tratar da nossa família.
Um beijo muito grande até à eternidade."

26.2.09

Road To Nowhere




Well we know where we're going
But we don't know where we've been
And we know what we're knowing
But we can't say what we've seen
And we're not little children
And we know what we want
And the future is certain
Give us time to work it out

Ye-ah

We're on a road to nowhere
Come on inside
Taking that ride to nowhere
We'll take that ride

I'm feeling okay this morning
And you know
We're on the road to paradise
Here we go, here we go

We're on a ride to nowhere
Come on inside
Taking that ride to nowhere
We'll take that ride

Maybe you wonder where you are
I don't care
Here is where time is on our side
Take you there, take you there

We're on a road to nowhere (ha! ha!)
We're on a road to nowhere (ha! ha!)
We're on a road to nowhere (ha! ha!)

There's a city in my mind
Come along and take that ride
And it's all right, baby, it's all right

And it's very far away
But it's growing day by day
And it's all right, baby, it's all right

Would you like to come along
You can help me sing this song
And it's all right, baby, it's all right

They can tell you what to do
But they'll make a fool of you
And it's all right, baby, it's all right

There's a city in my mind
Come along and take that ride
And it's all right, baby, it's all right

And it's very far away
But it's growing day by day
And it's all right, baby, it's all right

And would you like to come along
You can help me sing this song
And it's all right, baby, it's all right

They can tell you what to do
But they'll make a fool of you
And it's all right, baby, it's all right

We're on a road to nowhere (hey!)
We're on a road to nowhere (heugh!)
We're on a road to nowhere (ha! ha!)

We're on a road to nowhere


Talking Heads

[ from the album "Little Creatures" (1985) ]

24.2.09




hoje soube-me a tanto
portanto
hoje soube-me a pouco



11.2.09

querinda

cá em casa andamos a poupar palavras. por isso deixámos de dizer querida e linda em separado.

linkar para não plagiar

já há muito tempo que o meu irmão sabe dizer coisas que eu sinto mas que não sei explicar. para não o plagiar, linko-o.

9.2.09

correr

se temos um encontro marcado, subimos a rua a correr para acompanhar o ritmo do coração ou porque está a chover?

8.2.09

ilhas

se formos mesmo ilhas, como alguém disse alguma vez, então que saibamos criar maneira de nos sentirmos abraçados ainda que nunca nos toquemos. que desenhemos linhas invisíveis que nos façam sentir o calor, a humidade, o relevo de cada uma. que haja sempre uma forma de cada uma saber a história verdadeira da outra. que, mesmo no meio dos dias enublados, consigamos sentir que as outras lá estão. se formos mesmo ilhas que aproveitemos esse espaço que nos separa das outras ilhas para nos vermos e vermos os outras ilhas com a distância que é preciso para não nos confundirmos umas com as outras e nos conseguirmos apreciar. se formos mesmo ilhas, cuidemos com carinho da vegetação, das danças e pratos típicos, das aldeias, vilas e cidades que criamos. tenhamos cuidado com o turismo para não perdermos a naturalidade e a espontaneidade das nossas praias e montanhas e dos percursos entre elas. se formos mesmo ilhas, que façamos festas no verão e nos protejamos das tempestades de inverno. e caso uma delas nos derrube as àrvores e as casas, que aproveitemos a força da natureza para nos reconstruirmos e não deixarmos de ser uma ilha.

3.2.09

o vento enfim parou já mal o vejo pois sobre o tejo
e já tudo pode ser tudo aquilo que parece



sérgio godinho

20.1.09

posse

a minha casa. o meu carro. o meu trabalho. os meus livros. a minha música favorita. a minha escova de dentes. os meus pais. o meu irmão. os meus amigos. os meus amores. os meus meninos. a minha escola. as minhas colegas. os meus vizinhos. os meus passeios. as minhas memórias. os meus desejos. possuimos tudo o que nos rodeia. incrível. fazemos de tudo propriedade privada. queremos que as coisas sejam nossas. que nos perteçam para a nossa vida ser cheia.

e nem tudo é nosso, não. o que está à nossa volta pertence a si mesmo. tem vida própria. e é uma liberdade muito grande aceitar isto.

14.1.09

dentes

"tenho um dente a cair" - dizia-me hoje a C. com cinco anos.
"e eu também..." - pensei eu com trinta.

11.1.09

imagens

o sol a pôr-se na esplanada da Graça e a lua a nascer por entre os prédios do largo da Graça.
os dois muito gordos e grandes e cor de laranja.
quase a conseguirem ver-se.

4.1.09

carta II

querida amiga,

entrei agora no teu quarto e voltei a reparar nos cantos onde costumas acumular tudo e mais alguma coisa.
estás mais uma vez de parabéns!
pela decisão que tomaste de começar o ano com tudo arrumado e, para além disso, com coisas deitadas fora. sei que houve dias em que o fizeste a martelo. sei que não ficaste muito contente com o resultado e esperavas que a limpeza fosse maior, mas está muito bem. está realmente bem.


um abraço apertado.

p.s - podias só dar um jeitinho na mesinha de cabeceira. tem para lá umas coisas que dão cabo da cabeça de qualquer pessoa que queira limpar o pó.

3.1.09

top five

inventado para distinguir os melhores em diversas categorias,
o top five é um pequeno brinde a alguns momentos da nossa vida.
o top five é reviver e rever imagens.
é procurar memórias boas ou más.
é eleger momentos, objectos, pessoas.
levado ao extremo, é procurar o essencial.
o top five é um fim de tarde.
o top five, feito em conjunto, cria cumplicidade, proximidade, amizade.
pode transformar-se num top ten, num top three.
numa conversa.
partilhar um top five pode criar um novo momento de top five.
a todos os que fizeram um top five comigo ou fizeram parte dos momentos de top five,
um brinde gigante.
feliz 2009!