8.11.09

a rapariga do copo de água

- Após estes ano todos, o único personagem que ainda não consegui captar foi a rapariga do copo de água. Está no centro do quadro mas parece estar de fora.
- Talvez seja só diferente dos outros.
- Diferente em quê?
- Não sei... Quando era pequena brincava pouco com outros meninos. Talvez até nunca.
(...)
- A rapariga do copo de água... O ar alheado pode ser por estar a pensar em alguém.
- Alguém do quadro?
- Mais um rapaz conhecido noutro lado... Mas sente que são parecidos, ela e ele.
- Dito de outra maneira, ela prefere imaginar uma relação com um ausente a criar laços com os presentes?
- Ou talvez tudo faça para emendar a baralhada da vida dos outros.
- Mas a baralhada da vida dela, quem emenda essa?
- Sempre é melhor dedicar-se aos outros que a um duende de barro.
(...)
- Diga-me cá, aquele rapaz, ela voltou a vê-lo?
- Não, afinal não se interessam pelas mesmas coisas.
- A sorte é como a Volta à França; fartamo-nos de esperar e num segundo já passou. Chegado o momento há que saltar a barreira sem hesitações.
(...)
- Então é aquele ali, o da mão no ar. Está apaixonada por ele? Quanto a mim chegou o dia de ela arriscar tudo por tudo.
- Anda a pensar nisso, a preparar um estratagema para...
- Como gosta ela de estratagemas... Na verdade é um pouco cobarde. Deve ser por isso que não consigo captar a expressão.
(...)
- A Amélie não tem ossos de vidro, bem pode levar pancada da vida. E deixa passar a oportunidade. Com o tempo é o seu coração que será tão seco e quebradiço como o meu esqueleto. Vá em frente, raios!
O Fabuloso Destino de Amélie Poulain

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