14.11.12

um megafone para a multidão

"Jairo Campos explicou que, antes da carga policial, os elementos do corpo de intervenção da PSP fizeram duas advertências para os manifestantes dispersarem e estes não abandonaram o local."
rtp


por favor, não me digam que foi este megafone que anunciou às pessoas que deviam dispersar de são bento. por favor, não me digam que a quantidade de gente que hoje apanhou em frente à assembleia devia ter ouvido este megafone. tão igual aos megafones que ninguém entende no meio das manifestações.

eu não ouvi.
e eu estava lá.
e só soube porque ouvi mais tarde na televisão.
e por sorte não apanhei.
e atrás de mim tinha os olhos de ódio de um polícia.
e eu não mandei pedras.
e eu fiquei do lado de quem está pacificamente a mostrar o seu descontentamento.
e eu fiquei do lado de quem não concorda com os ataques à polícia.
e eu fui arrastada com toda a multidão.
e eu quero poder dizer que quero um país diferente.
e eu quero poder dizer que até podemos ser mais pobres, mas que isso seja justo para todos.
e eu não atirei pedras nem garrafas.
e eu estava ao pé de muita gente que também não estava a atirar pedras nem garrafas.
e eu queria agora ter a cabeça e o coração mais calmo, sabendo que o dia de hoje, apesar de toda a violência, seria um dia de mudança.
ficam as imagens que não dizem de modo nenhum todas as coisas como elas foram.
e fica uma espécie de tristeza misturada com agressividade a latejar cá dentro por nada disto fazer muito sentido e não sabermos afinal como é que um povo se faz ouvir e assume o rumo do seu país.
talvez seja mesmo a hora de nos reinventarmos.

mas, não, não me digam que aquele megafone foi o momento em que a polícia pediu aos manifestantes para dispersar. porque esse é o momento em que tudo, tudo fica deturpado nas imagens e que faz da tarde uma outra coisa.

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