28.5.11

brincar aos haikus


Um passarinho

Canta à desgarrada

Felicidade


Um senhor gordo

Fala à sua noivinha

Põe-se ali o sol


Cães violentos

Correm pela avenida

A vida é breve



26.5.11

é mesmo uma selva de vez em quando este mundo louco ainda bem que fiz nascer um jardim na varanda deste quinto andar para poder lá estar ou imaginar que lá estou quando preciso de descansar

22.5.11

o teatro municipal

quando eu era pequenina, participava nos saraus de música e de ballet das (respectivas) escolas a que pertencia. era um acontecimento: nesse dia, tínhamos a oportunidade de pisar o palco do teatro municipal e estar perante uma plateia enorme que ali estava para nos ver e ouvir. era um orgulho imenso. dias muito especiais. o teatro era enorme e eu tinha esse sentimento de ser enorme também. a plateia era enorme e só ficava um bocadinho mais pequena depois de localizar o pai e a mãe. o nervosismo era enorme e proporcional à satisfação do fim do dia. e tudo era tão enorme que os anos foram passando e a memória também ficou assim guardada de dias, espaços e emoções enormes.
ontem, voltei a entrar no teatro municipal. já não para a festa de fim de ano de nenhuma escola de música ou dança, mas para fazer parte da plateia. levava uma forte emoção de estar de novo a entrar num espaço de memória e, enquanto esperava e reconhecia alguns dos rostos à minha volta e os tentava localizar no tempo, pensava em como a tinha guardada. os camarins por onde corria de um lado para o outro numa euforia característica, o espaço antes das cortinas onde esperava a minha vez e espreitava às escondidas, as entradas sorridentes com o tutu que me fazia sentir tão menina, a ansiedade de encontrar alguém conhecido a ver-me na plateia, o nervosismo para não me enganar, a vontade de rir desse mesmo nervosismo. sentia-me, enquanto esperava, de visita ao meu próprio passado e senti um gosto imenso de estar a revisitar tudo isto e uma curiosidade imensa de saber do espaço para lá das portas.
abriram-nas finalmente e eu segui a fila dos lugares ímpares. quando entrei na sala a minha memória deu saltos rápidos entre o passado e o presente. bem rápidos. a minha memória não reconheceu o espaço. tinha havido obras, eu sabia, e tudo estava diferente e tudo era muito mais pequeno do que a minha memória guardava. atravessei a sala dum lado ao outro num instante e não quis acreditar que aquele salão da minha infância era ,e sempre tinha sido afinal, só esta sala. no palco, o homem para quem dei os meus primeiros passos, apresentava o primeiro painel. também ele mais pequeno do que eu me lembrava.

à noite, ainda guardava estas imagens e a sensação espacial e temporal do teatro estar diferente e de eu própria estar também diferente. garantiram-me que o teatro não estava mais pequeno, apesar das obras. e que, sim, eu é que tinha crescido.
talvez eu tenha crescido só uns quarenta centímetros desde essa altura, mas o teatro municipal diminui muitos e muitos metros.
vou guardar a memória da infância. a enormidade da sala e da sensação. é esse o teatro que vou guardar para sempre.


20.5.11

o estilo

o estilo é uma coisa maravilhosa!
o estilo nunca nos deixa ficar mal!
o estilo fica bem a toda a gente!
e tudo fica bem ao estilo!

ainda bem que inventaram o estilo!
ainda bem que o estilo está na moda!
ainda bem que, graças ao estilo, pude sair à rua com um saco de compras a fazer de carteira!!

15.5.11

bola preta

sabia, no mais fundo de si, que um dia havia de ganhar campeonatos de bowling com aquela bola preta que tinha guardada. não conseguia desfazer-se dela, por isso, se não fosse bowling, para alguma coisa nobre haveria de servir. não havia pressa.

12.5.11

30


- quando foi que chegaste a casa?
- não cheguei... e ainda não sei quando chegarei.