24.7.09

julho em lisboa

o tempo em lisboa aumenta em julho.
os carros começam a partir para férias, as ruas alargam, os lugares para estacionar crescem.
há fachadas de prédios que renascem e esplanadas que se vêm do outro lado da rua.
os passeios têm mais metros, os autocarros têm sempre lugar.

julho em lisboa é maravilhoso.
chega-se a tempo e tem-se mais tempo.
pode viver-se mais.

(não fosse a necessidade absoluta de férias,
elegia julho o melhor mês em lisboa)

21.7.09

um dia começo a escrever horóscopos

"It isn't wise to wait for someone to change. What you see is what you get. If you have to make changes to build a better life, stop making excuses. Things rarely turn out the way you expect. Stand up for what you need each day. The future will take care of itself."


no fundo, basta incentivar as pessoas de cada signo a viver a sua vida bem vivida. e para isso há imensas frases que se podem sabiamente escrever.

16.7.09

coisas simples


16 de Julho. o único dia do ano em que falo com o meu irmão ao telefone e sei que ele me telefonará no dia a seguir. dizemos "então até amanhã!" e rimo-nos sempre. todos os anos.


15.7.09



Vou viver

até quando eu não sei
que me importa o que serei
quero é viver

Amanhã, espero sempre um amanhã
e acredito que será
mais um prazer


(antónio variações)





todo o dia a trautear esta música.
e um sentido imenso a ecoar por aqui fora.




13.7.09

há dias X



há dias que duram até ao dia seguinte.
e agradavelmente perduram nos dias a seguir.


1.7.09

escritos de rajada

"vamos amigos aqui à volta desta fogueira dar-nos todos como se estivessemos sozinhos e nada houvesse a prender-nos. vamos amigos nesta noite que finda dizer todas as palavras que ficaram engasgadas encravadas empancadas. vamos todos amigos abrir as portas as janelas as varandas e criar a nossa aldeia. vamos todos vamos. vamos mostrar que é possível a paz a alegria a coragem a vida. vamos amigos. façamos este último esforço. vamos. começo eu."

o orador contou então do arrepio que sentiu quando em plena caminhada se viu sem água sem comida e já sem força. contou então do medo que sentiu quando todos pareciam esmorecer no fim de três dias a tentar levantar o telhado. contou então das tristezas que passou com o seu coração despedaçado naquela tarde em que a rapariga loura lhe negou um beijo um abraço um carinho (a rapariga loura corou). contou que tivera sido ele a esgotar a bilha de gás à força de precisar de luz para acabar de escrever. foi interrompido pelo homem de bigode que houvera ficado com a responsabilidade de a repor e de como lhe doeram os pés por tê-la ido buscar montanha abaixo montanha acima. e da raiva que sentiu e de como partiria a cara da besta que o fez fazer aquele caminho. a voz era elevada e a face encarnada. o orador pediu desculpa pela cobardia do momento e ofereceu a cara. o homem do bigode usou-a mesmo. para um murro. um só murro. a rapariga do casaco vermelho tipo canadiana levantou-se e amparou o orador e falou da noite em que dormiu fora da casa porque alguém fechara a porta e se esquecera de que ela tinha descido a buscar o pão que faltava para a manhã seguinte. disse da pena que tinha de não ter vontade nem possibilidade de partir também ela a cara a alguém porque todos todos eram responsáveis por essa noite e do mal que lhe soubera aquele pão que ainda assim partilhou com todos. fez-se um silêncio. a menina das botas pediu licença para quebrar o silêncio mas que tinha de tirar lá do fundo do pensamento todas as discussões tidas cegamente com o rapaz das jardineiras e o homem do bigode sobre a melhor maneira de carregar os jerricãs de água para o cimento. e que sim lhe houvera custado trazê-los todos os dias e que não não tivera sido uma tarefa até gloriosa e que sim a arrogância a martelara nas costas nos braços nas pernas no orgulho. falava apressada. o orador riu abraçando-a e lembrando as sandes que haviam feito juntos para levar a quem estava já no trabalho das últimas telhas. o baixinho brincou com as estafetas feitas para que essas sandes chegassem lá acima intactas. a rapariga loura confessou o ciúme sentido por não ter sido ela a fazer as sandes e que o beijo pedido estava ainda por dar. o orador corou. e sorriu. o baixinho levantou-se e falou de pé porque queria mesmo ser ouvido sobre a decisão que tomara de partir no meio da jornada montanha abaixo para ver o jogo da final. de como a culpa o acompanhara no caminho e de como não era o jogo que o fazia descer mas a necessidade de estar sozinho e controlar um pouco dos seus dias. a rapariga loura invejou-lhe a coragem de ter ido por ter sentido também ela vontade de ir por aí e sentir-se a si mesma. que em vários momentos se deixou ir pelo grupo e que assim se sentira a viver uma vida que não era a sua e que sentira o seu lugar desnorteado e que nem sabia bem do espaço que tinha sido o seu porque definitivamente não o soubera criar e que as palavras foram ficando cada vez mais engasgadas e que o cansaço lhe pesava e que tudo o que queria para descansar era o abraço do orador. se ainda tinha para lho dar? o orador sorriu e docemente abriu-lhe os braços. no seu colo a rapariga loura respirou fundo. o rapaz das jardineiras puxou a guitarra e soou o que força é essa que trazes nos braços e o homem do bigode não pode deixar de sorrir contagiando as vozes. a menina das botas fechou os olhos e assim ficaram noite dentro cantando.