8.10.08

hora

há uma hora do dia caótica para conduzir em lisboa. hora em que dá vontade de atropelar tudo o que aparece à frente e ir directamente aos senhores responsáveis e passar-lhes o carro para as mãos e dizer-lhes: "ora experimente lá ir para casa sem ficar com os nervos em franja!"

à hora do grande regresso a casa, a partir das seis e até para além das sete e meia, hora de lusco-fusco e anoitecer, os candeeiros da rua estão ainda apagados na maior parte das ruas do trajecto que faço ao fim do dia.
é uma aventura regressar a casa.
as ruas mais escuras ficam cheias de sombras estranhas que não se sabe se é uma bicicleta que aí vem, um peão que passeia o cão ou uma betoneira mal estacionada. os olhos deixam-se ofuscar com os carros da frente e, na falta de outra luz que os faça recuperar, passam os metros seguintes numa verdadeira obra de perspicácia a tentar voltar a ver no escuro, evitando feridos e amolgadelas e tentando distinguir se, de facto, é uma bcicleta, um cão ou uma betoneira. o corpo começa a ficar enrigecido pelo esforço acrescido da cabeça e dos olhos e pelo medo de não estar a ver tudo nem a medir bem os espaços. os carros mal estacionados que, à luz do dia são aborrecidos, tornam-se insuportáveis. os quatro piscas são um desespero de luz. o corpo, enrigecido como está, demora mais a fazer manobras. procurar estacionamento, se estiver difícil, torna-se desesperante. a boca começa a ganhar vontade de dizer palavrões...
o que vale é que, nesta altura, chego a casa.
uf!
é uma hora pequena, mas que se torna imensamente longa.

vou informar os responsáveis que, apesar dos relógios universais não o saberem, já saímos do verão e os dias estão mais pequenos e os candeeiros da rua deviam acender mais cedo. evita-se assim as más disposições de fim de dia.
(que coisa! será que eles não andam de carro a esta hora?)

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