28.3.08

amizades eternas


até há bem pouco tempo as amizades pareciam para sempre. aliás, muitas coisas no mundo e na vida pareciam eternas. o mundo era imutável e as pessoas e as vidas não iam desaparecer ou transformar-se. podia eternamente contar que estariam ali à mão ou ao pé.
é uma grande descoberta, esta. o momento em que começamos a saber que os amigos vão indo embora e nós mesmos vamos querendo mundos diferentes.
a mim custou-me muito saber que, afinal, as pessoas morrem mesmo e nos desaparecem do dia-a-dia e já não lhes podemos ver o rosto ou ouvir a voz quando temos saudades delas. também me custou saber que a distância pode criar novos rumos e deixar de nos dar a oportunidade de visitar aqueles confortos que tínhamos em circunstâncias muito específicas. a clara consciência de que os momentos são mesmo únicos e irrepetíveis.

e, no entanto, ficam ainda amizades eternas.
há umas quantas que preservo e cuido com muito carinho. que por muitas voltas que o mundo dê, quero continuar a ter junto a mim. há outras que hão-de aparecer. guardo espaço para elas.

acho bonita esta ideia... de estarmos sempre a receber pessoas. as que vêm com malas, as que estão de passagem, as que deixam marcas, as que nunca mais voltam...

enchemo-no de pessoas. é incrível!

18.3.08

memórias corporais

são instantes em que o corpo vive ao de leve um bocadinho de uma história já vivida ou de um movimento já feito e se arrepia, se emociona, se deixa viver de novo o que estava arrumadinho ou esquecido. um misto de prazer e dor. às vezes, uma vontade louca de fixar o tempo e ficar nele o suficiente para saciar a saudade.

9.3.08

tempo

não sei se o tempo não me chega ou se sou eu que não chego para o tempo.

7.3.08

pessoas-parede

as pessoas-parede têm sempre um ar sisudo, cheio de certezas, e trazem consigo uma mala cheia de insultos e palavras ofensivas para manter a sua estrutura de pé. não me parecem muitos felizes, estas pessoas-parede. falta-lhes um coração a bater. apesar de serem pessoas, convencem-se a si próprias de que são mais parede. o resultado é uma amargura na voz, um corpo sempre hirto e uma constante insatisfação. têm alguns momentos de pessoa em que se deixam penetrar por momentos bonitos e podemos ver-lhes um sorriso. é aproveitá-lo. é raro.
(destesto estar com pessoas-parede. ter à força de conviver com elas e tentar criar projectos comuns.)