e no meio do início dos arrumos para mudar de casa... no meio dos cadernos que vão agora viver para o lombomeão... saltam pequenos papéis que alguém, algum dia, me deu e eu guardei... e há alguns que falam directamente comigo, aqui e agora.
dos tempos (s)em tempo
22.12.13
9.10.13
23.9.13
17.9.13
27.5.13
fazemos o nosso melhor
"não conseguimos fazer tudo, não. mas fazemos o nosso melhor." - dizia há pouco a uma amiga, em jeito de fim de conversa, de fim de dia, de fim de ano lectivo cansado. dizia-o quase da boca para fora, para terminar de forma pacífica a nossa conversa e trazer o coração mais calmo para casa e deixar o dela também.
mas, sim, de facto, e enquanto caminhava, pensava-o, "fazemos mesmo o nosso melhor". lutamos para fazer andar os nossos projectos e sonhos e mais os projectos e sonhos dos outros. lutamos para, se no meio ainda der, tentar construir outros juntos. fazemos o que não queremos mas que tem de ser feito. fazemos andar a vida e "dar conta do recado" e, no meio de tudo, ter espaço para sermos felizes.
dar de nós em cada coisa é fazermos o melhor.
e há dias e meses e anos em que temos mesmo muitas coisas para fazer e que o pouco que damos faz, ainda assim, o movimento da vida.
talvez não consigamos todos os dias chegar a todos os lados, mas, sim "fazemos o nosso melhor" e devemos dormir descansados.
11.5.13
sem abrigo
Um homem mora num jardim público durante dois anos. Tem apenas um
cobertor vermelho e um copo de vinho alto. Tudo o resto são roupas, cartões e
revistas que troca com frequência. Sente um imenso orgulho e gratidão por ter
tido este lugar tão cobiçado por ele neste jardim da cidade e de não ter sido
expulso à pedrada pela polícia, pelos outros homens ou um qualquer movimento de
moradores. Mantém o seu sítio sempre arrumado e limpo. E durante o dia, quando
todo o resto de moradores regressa ao jardim, ele sai pelas ruas da cidade.
Procura histórias e comida. É isto que lhe basta para viver desde que escolheu
o seu lugar no jardim e aprendeu a viver sobrevivendo. Adquiriu a qualidade de
vida há tanto esperada. A garantia de escolher livremente o que quer que seja
para a sua vida. Não tem obrigações, responsabilidades, pretensões. Basta-lhe
esta casa.
Mas
um dia o jardim vai para obras.
Quando começaram os primeiros rumores sobre essa possibilidade, não
fez parte dos movimentos que se opuseram e maldisseram as decisões tomadas. Não
fez parte do Dia da Mocada em que homens e máquinas voltaram para trás sem
conseguir iniciar a Muralha de Tapume que fecharia o jardim durante meses, para
depois reabrir novinho em folha, todo
arranjadinho. Tinha estado sempre lá,
mas não, não tinha feito parte. Tinha assistido. Simplesmente. [E talvez agora
percebesse que devia ter-se envolvido, mas na altura ele não sabia isso.] Aceita
simplesmente e segue o seu caminho na noite em que fecham a Muralha
definitivamente. Vai pela avenida fora preparado para escolher outros sítios
provisórios e encara este tempo como uma grande viagem de férias em que os
horizontes se abrem e uma quantidade imensa de histórias ficam à sua
disponibilidade. Cria novos espaços durante o tempo em que espera pelo regresso
ao jardim e pela primeira vez escreve postais para si próprio na ânsia de
guardar este universo na sua casa. Quando finalmente regressa ao jardim,
todo o espaço estava diferente. Todos os recantos que conhecia estavam
descaracterizados e tipificados com os novos equipamentos de jardim que
tornavam todos os espaços verdes iguais.
Procurou o seu canto. O seu cheiro. Os
restos de si naquele jardim e, pela primeira vez, se sentiu sem abrigo.
8.5.13
obrigada
um amigo querido
aliado a um espaço querido
e a uma urgência completamente partilhada
obrigada, Castelo
7.5.13
magia
vai fiando o seu casulo. devagar. com paciência. gordo, grande e cheio de paciência. vai fiando. vai fiando. fica nisto o tempo que for preciso. e fia fia fia... a malha a ficar apertadinha. redondinha. e ele a ficar lá dentro. a desaparecer. sempre a fiar e a desaparecer. e a fiar até ao momento em que tudo pára. em que o casulo fica quieto. parado. sem sinais de vida. lá dentro há-de haver silêncio. sossego. solidão. mas transformação.
o que se passa ali dentro?
o movimento é invisível aos olhos. só aos olhos. porque em nós existe a expectactiva. a especulação de como tudo se move lá dentro.
algum tempo depois é-nos brindada a borboleta. e tudo começa outra vez.
que magia a vida!
29.4.13
escola
tinha o microfone bem perto da sua boca. as pernas tremiam. o coração batia por todo o corpo. os olhos fixavam os olhos dos presentes que sorriam na ausência de palavras. sabia o que tinha de dizer. sabia que ao dizê-lo deixaria de estar dentro de si e passaria a estar dentro de todos aqueles que a escutassem e dos outros tantos a quem estes contassem.
tinha desejo e medo ao mesmo tempo.
em quantidades iguais.
em quantidades iguais.
as pernas tremiam. o coração batia por todo o corpo.
já não podia voltar atrás. era só uma questão de tempo.
já não podia voltar atrás. era só uma questão de tempo.
respirou fundo.
sorriu.
e, no silêncio que então se tinha criado, ecoou a sua decisão e deixou-a registada em cada pessoa que ali estava.
tentou ainda agarrar as palavras no segundo seguinte, mas as palmas tinham-nas já agarrado e as palavras dos outros começaram a misturar-se com as suas e era impossível separá-las.
nem ela queria.
queria o desejo. não o medo.
estava registado. não havia volta atrás.
24.4.13
noites de verão
enquanto chega a primavera, chamamos-lhe já verão. talvez pelo prolongado do inverno. talvez pelo calor que já sente. mas, hoje, sem dúvida, por finalmente ter desfrutado da minha esplanada até mais tarde, com alguns amigos à volta.
é o início do verão no corpo e na alma.
17.4.13
há dias XXX
há dias em que olhamos para trás e sentimos que nada foi errado e fazemos as pazes com tudo o que vivemos.
há dias em que sabemos que tudo valeu a pena e que até foi bom afinal que tivesse sido desta maneira.
há um dia em que o futuro começa a ser mais importante do que o passado.
há dias em que sabemos que tudo valeu a pena e que até foi bom afinal que tivesse sido desta maneira.
há um dia em que o futuro começa a ser mais importante do que o passado.
30.3.13
acabou hoje
fazer um puzzle de 1500 peças parece-se muito com a vida.
a persistência. o medo. a alegria. o cansaço. as surpresas. a companhia. as escolhas. o tempo a passar. a paciência. os objectivos. o riso. as dúvidas. a conquista.
tudo existe num puzzle de 1500 peças como na vida.
impressionante!
27.3.13
um brinde aos amigos
“Às vezes é preciso calar algumas palavras
para a imagem falar”,
diz Isabel Minhós Martins.
Planeta Tangerina eleita a melhor editora europeia de livros para a infância
na Feira do Livro Infantil de Bolonha.
Parabéns!
na Feira do Livro Infantil de Bolonha.
Parabéns!
9.3.13
histórias incríveis II
Truca-Truca
Já que o coito – diz Morgado –
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou – parca ração! -
uma vez. E se a função
faz o orgão – diz o ditado –
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou – parca ração! -
uma vez. E se a função
faz o orgão – diz o ditado –
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.
(com enquadramento aqui)
é o riso puro!
3.3.13
28.2.13
ser feliz
"Se perguntarmos à maioria o que quer da vida, a resposta é simples: ser feliz.
Mas talvez seja a expectativa, o querer ser feliz, que nos impede de lá chegar.
Se calhar, quanto mais tentamos atingir estados de alegria, mais confusos ficamos. Ao ponto de não nos reconhecermos. Em vez disso, continuamos a sorrir. E esforçamo-nos imenso por sermos as pessoas felizes que queremos ser. Até que nos ocorre finalmente. Sempre esteve lá. Não nos nossos sonhos ou esperanças, mas no que conhecemos, no que para nós é confortável, familiar."
da anatomia de grey
27.2.13
para a vida
- ui! que canseira, credo. isto às vezes, mais valia era estar quietinha, porque quando se começa é que se vai andando e nunca mais se acaba, porque se descobre que afinal há ali mais qualquer coisinha para ser limpa e arrumada e para ir para o lixo. nunca mais acaba. ui! para o ano já não faço isto.
mas também... digo sempre isto e faço outra vez... oh... é tão bom depois ver isto tudo novinho como se fosse começar tudo outra vez... não é?
(escrito no caderno, no início do ano, depois de uma conversa com a T., a propósito da cave da escola)
mas também... digo sempre isto e faço outra vez... oh... é tão bom depois ver isto tudo novinho como se fosse começar tudo outra vez... não é?
(escrito no caderno, no início do ano, depois de uma conversa com a T., a propósito da cave da escola)
22.2.13
portugueses
e que na História fique escrito, sim, que somos criativos quando começa a ser demais e que lutamos com toda a nossa potencialidade.
o meu maior respeito por quem tem feito vingar ideias.
o meu maior respeito por quem tem feito vingar ideias.
21.2.13
correr III
corres tanto
tantas vezes
corres tanto
pra tão longe
corres tanto
corres tanto
e nem gostas de correr
e corres
e corres
e enquanto corres
bate-te o vento na cara
mas nem o sentes
porque a correr
vai também o coração
e a sofreguidão
e a solidão
e não
tu não gostas de correr
mas não consegues parar
com medo de perder
com medo de te perder
de lá não chegar
de não conquistar
de não seres
de perderes
de te perderes
pára
pára agora
pára um pouco
respira
bebe a água límpida da fonte
aprecia
desfruta
sente o vento
que te batia
há pouco
na cara
confia
e corre
corre
corre agora
para aproveitar
para amar
confia
corre agora
mais devagar
tantas vezes
corres tanto
pra tão longe
corres tanto
corres tanto
e nem gostas de correr
e corres
e corres
e enquanto corres
bate-te o vento na cara
mas nem o sentes
porque a correr
vai também o coração
e a sofreguidão
e a solidão
e não
tu não gostas de correr
mas não consegues parar
com medo de perder
com medo de te perder
de lá não chegar
de não conquistar
de não seres
de perderes
de te perderes
pára
pára agora
pára um pouco
respira
bebe a água límpida da fonte
aprecia
desfruta
sente o vento
que te batia
há pouco
na cara
confia
e corre
corre
corre agora
para aproveitar
para amar
confia
corre agora
mais devagar
19.2.13
grita
- e se te apetecer, grita - que os meus ouvidos estão preparados para te ouvir gritar. sabes que não vais pensar, sabes que não vais ter toda a razão, sabes que vais magoar se mais alguém te ouvir e sabes que nem tudo se vai perceber. mas grita. grita agora. não guardes esse grito mais tempo. para quando não o puderes ou souberes dar. grita agora - que os meus ouvidos estão preparados para te ouvir gritar e a estrada está vazia e há todo o tempo do mundo para o grito que aí está. grita.
17.2.13
o fugitivo
Um homem corre na noite
é uma imagem banal
podia ser em Madrid
ou Johanesburgo, ou em S. Paulo
ou Budapeste, Nova Iorque
ou Hollywood
ou é claro em Portugal
um homem corre na noite
é uma imagem banal
Porque foge? De onde vem?
porque olha para trás inquietado?
será soldado? vagabundo?
criminoso? ratoneiro?
será apenas o primeiro
dos que vão fugir com ele?
foge p´ra salvar a pele
só a sua? a pele dos outros?
a pele clara ou a escura?
quanto tempo vai durar a sua fuga?
quanto dura? o que espera?
o que espera o homem- fera
se chegar a quem o espera?
alguém o quer? alguém se acende
alguém o chora?
alguém por quem ele chorou
chorará por ele agora?
alguém que nunca o trairá
e se sim, onde será?
Um homem luta contra o sangue
que derrama
e diz: valeu a pena?
Que os barcos
voltem a subir o Guadiana
vindos de longe
do mar
Que os barcos
voltem a subir o Guadiana
descarregando à passagem
todo o trigo
que o cavalo esbaforido
chegue à relva, sua cama
que o fugitivo
encontre seu porto de abrigo
Um homem corre na noite
é uma imagem banal
esgueirado de holofotes
com a estrada que atravessa
se confunde
com o breu o seu corpo
se confunde
e se passa num muro branco
fica branco como a cal
tal e qual
o camaleão
é uma imagem banal
Um homem luta contra o sangue
que derrama
em que cama
terá ele o seu repouso?
está ansioso? e como não?
não estaria quem pisasse
um desconhecido chão?
não estaria de garganta afogueada
quem por nada
assim fugisse?
quem por tudo suplicasse
dai-me forças, dá-te forças
a ti próprio te confias
dá-te alento, dá-te tempo
dá-te dias
sobrevive de agonias
respirando sobrevives
sobrevive
Um homem vive
contra o sangue
que derrama
e diz: vale a pena?
Que os barcos
voltem a subir o Guadiana ...
Um homem corre na noite
é uma imagem banal
porque insiste? porque teima?
não há pânico na rua
não há fogo no quintal
labaredas? só nas camas
dos amantes
já distantes
chegam ruídos, utopias
quanto vale uma utopia?
vale tudo? quanto vale?
um homem corre na noite
é uma imagem banal
O que fez o fugitivo? porque corre?
se está vivo é porque morre
se morrer é porque o matam
se o matarem ,será justo?
inocentes são os culpados de outros crimes
de que culpa?
de paixão? de inconsciência?
será justo ou não será
desbaratar a inocência
tão a custo conquistada?
porque corre o fugitivo nessa estrada?
E agora para para agora
o homem para
para agora para agora
será que sente que chegou a sua hora?
É impossível
não é possível
correr tanto
e pensar tão
lucidamente
o coração
não aguenta
a cabeça também não
porque tenta
ultrapassar os seus limites?
provavelmente
é por vontade de viver
(quente quente ...)
que ultrapassa os seus limites
«Estamos quites!»
diz para o seu coração
«Ainda não, ainda não ...
sentes que valeu a pena?
se te obrigam a fugir
mais te obrigam
a chegar junto de ti
valeu a pena?»
sérgio godinho
para ouvir aos ouvidos e deixar o arrepio crescer pela quantidade vezes que já tivemos de fugir e chegar mais junto a nós
16.2.13
fim do dia
em reunião de trabalho discute-se um novo recomeço para a escola.
em casa da amiga fala-se do passado para construir o futuro.
e, quando se chega a casa, descobre-se ainda que
e que
um grupo de pessoas levantou a voz na assembleia.
este é um grande fim de dia
14.2.13
histórias incríveis
esta
comove-me a história do seu corpo e de como ele é abusado.
comove-me que haja uma mulher que, mesmo depois da morte, arraste um mundo para lhe devolver a dignidade.
29.1.13
27.1.13
prenda da tia C.
Now that you got it right
Bring love and it'll make it alright
Bring love and we'll take it tonight
Now that you got it right
Now that I understand this right
Let me take it to the mic
This revolution has just begun
23.1.13
caminho
aquela floresta tinha sido dura de atravessar
mas o coração tinha finalmente acalmado
e a luz da lua
naquela clareira
trazia-lhe a possibilidade de adormecer sossegada
amanhã continuaria o caminho
por agora respirava
21.1.13
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